Dentro do acampamento pró-Palestina na Universidade de Colúmbia

No momento mais stressante do semestre, os alunos estudaram dentro do acampamento — rodeados de jornalistas e forças policiais —, cooperaram com activistas locais, compraram mantimentos para os outros

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Megafone P3: Dentro do acampamento pró-Palestina na Universidade de Colúmbia Caitlin Ochs / REUTERS
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Quando acordei no dia 18 de Abril com uma série de vídeos de alunos a montar tendas em frente à Butler Library da Universidade de Colúmbia, onde estou a estudar, senti um enorme alívio. A intensidade do sentimento foi tal que quando dei por mim estava na sala a monopolizar a atenção dos meus colegas de quarto, declarando repetitivamente: “Está finalmente a acontecer!”.

Esta descarga de adrenalina foi o reflexo de um sentimento de desamparo que muitos sentimos desde Outubro passado. Para mim e para outros colegas, o dia-a-dia era carregado de uma imensa culpa e sensação de paralisia. Desapontados com a “ordem internacional” e a retórica política profundamente desconectada da realidade, os protestos em Colúmbia trouxeram-me uma esperança que pensava perdida.

Saí rapidamente de casa e apanhei o metro para Morningside Heights, sentando-me ao lado dos alunos que iniciaram o acampamento em solidariedade com Gaza. Nessa manhã, a presidente da universidade, Minouche Shafik, estava em Washington D.C. para uma audiência com o Congresso norte-americano. Shafik foi chamada a responder sobre o alegado anti-semitismo que aconteceu no campus da sua universidade.

Sem qualquer criatividade intelectual e incapaz de defender os seus alunos e professores face às acusações de representantes republicanos sanguinários, a presidente Shafik chegou à capital dos Estados Unidos rendida à agenda política imposta sem escrúpulos. Assim começou uma guerra aberta na universidade. No momento mais stressante do semestre, enquanto escrevíamos dezenas de páginas por dia para os exames finais, os alunos estudaram dentro do acampamento — rodeados de jornalistas e forças policiais —, cooperaram com activistas locais de Nova Iorque para preparar conferências de imprensa e compraram mantas, comida, e outros mantimentos para apoiar quem dormia nas tendas.

Perguntam-nos frequentemente porque é que não fizemos o mesmo pela Ucrânia, o Iémen ou o Sudão: os jovens não só estão extremamente bem informados sobre tudo o que se passa nesses países, como vão a protestos contra as acções do governo russo ou dos Emirados Árabes Unidos. Na verdade, ninguém está mais familiarizado com a hipocrisia infinita dos regimes do Golfo do que os alunos árabes desta universidade. No caso de Israel e da Palestina, os governos ocidentais estão paralisados ou a compactuar activamente com um genocídio, o que impulsiona naturalmente a acção por parte dos seus cidadãos – a quem eles teoricamente respondem e por quem governam.

A causa palestiniana tem também a particularidade de mobilizar diferentes coligações ao mesmo tempo por tocar na identidade, incita discussões sobre temas fracturantes, desde o conceito de Estado-nação às minorias, o genocídio e o Holocausto, o anti-imperialismo e o direito à autodeterminação. Dentro desta ampla coligação que reivindica os direitos humanos do povo palestiniano existem, sem dúvida, algumas divisões. Mas mesmo sendo imperfeita, sabemos que é necessária, agora mais do que nunca. Não existe melhor exemplo do que o facto de alguns alunos judeus serem dos mais activos na organização de protestos nos últimos meses.

Regressei ao campus há umas semanas, agora que a “normalidade” foi restabelecida. Os relvados que a administração tanto estima estão a ganhar de novo cor, depois de semanas sem serem regados devido às tendas. Qualquer pessoa pode novamente entrar pelos portões da universidade para passear o seu cão, jogar frisbee com amigos, ou contemplar a imponência dos edifícios desta instituição que tanto se preza como um centro de conhecimento. Mas um pacto sagrado foi quebrado quando a polícia entrou no campus para prender dezenas de alunos, quando a presidente fechou a universidade a toda a comunidade. Os alunos internacionais foram dos mais afectados: sacrificámos muito para estar aqui, convencidos de que podemos contribuir para um mundo melhor, apenas para nos apercebermos que os nossos vistos estão em risco por sermos contra um genocídio.

Na origem de mudanças fundamentais na sociedade estão sempre movimentos cívicos e populares. São eles que dão o grande impulso para que, com o tempo, o activismo dê lugar a vitórias políticas. Os jovens que se levantaram pelos palestinianos em Gaza sabem-no e começaram um caminho que nos lembra a força que temos enquanto cidadãos. Termino este texto sentada no maldito relvado onde tudo começou, mas sei que não vamos ficar por aqui.

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