As expectativas e uma adequada gestão destas (seja no futebol ou noutra área)

Perder é parte do desporto, e aprender com derrotas anteriores é uma parte muito importante do processo de aprendizagem. A Seleção certamente terá aprendido com isso para enfrentar a Eslovénia.

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Portugal derrotou a Eslovénia nas grandes penalidades Kai Pfaffenbach/REUTERS
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O jogo da seleção portuguesa de futebol no Campeonato Europeu com a seleção da Geórgia e o que vimos refletido na comunicação social e redes sociais nos dias seguintes, deixou-nos a pensar sobre um tema recorrente na Psicologia do Desporto: as expectativas e uma adequada gestão destas.

Antes de continuar com o tema, sentimos necessidade de fazer uma ressalva. Somos da opinião que a psicologia não é uma moda recente que resolve tudo, mas sim uma ciência antiga cuja produção de conhecimento tem contribuído, e continuará a contribuir, para melhorar as probabilidades de êxito em competição, e definitivamente consegui-lo através de práticas mais sustentáveis e saudáveis para os indivíduos.

Falemos então sobre expectativas, ou seja, sobre o que esperamos que aconteça. Sabemos que episódios de competência/êxito reforçam a confiança que temos nas nossas capacidades e que é apenas natural cair na tentação de julgar que no próximo episódio a probabilidade de êxito seja maior. Não nos interpretem mal, está muito bem ter confiança nas nossas habilidades e diferentes recursos de que dispomos para ultrapassar desafios. Mas cada vez que subimos a uma arena competitiva pode acontecer de tudo. Não interessa a história ou eventos passados. Podemos ter uma dor de barriga, o vento não ajudar, o adversário ser mais desafiante do que antecipávamos, etc…

Se o que esperávamos que acontecesse era um passeio cómodo até ao resultado desejado, quando a realidade nos confronta com um cenário diferente saltam os “alarmes”. Muito frequentemente sentimos emoções que não contribuem para a nossa performance, como a frustração, a precipitação ou a ansiedade. Estas emoções toldam o nosso foco, aumentam tensão dos músculos e deterioram a qualidade da tomada de decisão.

Se apesar do nosso otimismo nos prepararmos para cenários adversos, independentemente dos prognósticos, é mais provável que consigamos manter o foco nas soluções estratégicas e níveis de confiança para executá-las bem. É o velho adágio de “espera o melhor e prepara-te para o pior”, mas não basta falar dele e alertar. É imperativo treinar planos de contingência em condições adversas, mesmo que estas nunca sejam iguais às da competição real.

Muitos dos comentários de jornalistas e adeptos que fomos lendo e escutando ao longo destes dias, refletem que tanto a comunicação social como massa adepta se deixaram levar pela onda de otimismo que os resultados anteriores geraram, e parece que esperavam algo irrealista.

Acreditamos que não fosse o caso da nossa seleção, e que o jogo tenha apresentado desafios táticos e incidências que o comum adepto desvaloriza e que dificultaram bastante a tarefa dos nossos rapazes.

Perder é parte do desporto, e aprender com derrotas anteriores é uma parte muito importante do processo de aprendizagem. A Seleção certamente terá aprendido com isso para enfrentar a Eslovénia. Mas precisamos todos de fazer a nossa parte e contribuir, de uma vez por todas, para que a derrota seja pedagógica e não uma vergonha.

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