O verdadeiro tratado sobre penáltis, segundo “D. Diogo Costa”

Com três defesas consecutivas e nenhum golo concedido, português entra directamente para a galeria dos “monstros” das balizas dos Europeus. Ricardo tinha feito algo semelhante no Mundial de 2006.

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Diogo Costa emocionado no final do jogo de uma vida Heiko Becker/Reuters
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No rescaldo do Portugal-Eslovénia, Roberto Martínez não se cansou de repetir que o segredo mais bem guardado de Portugal tinha acabado de ser desvendado perante os olhos incrédulos do mundo inteiro. Um verdadeiro tratado de como defender penáltis, pela pena de Diogo Costa.

O mais improvável herói de Frankfurt saía, assim, nas palavras do seleccionador, definitivamente da penumbra — anonimato seria um termo abusivo — para recolher créditos plenamente justificados, tanto ao serviço da selecção como do FC Porto, onde, na Champions, já tinha escrito o primeiro volume do manual dos penáltis.

Agora, era a vez de provar a vocação e superar a célebre A Angústia do Guarda-redes antes do Penalty, obra do dramaturgo, romancista, poeta, argumentista e realizador de cinema austríaco Peter Handke, Prémio Nobel da Literatura em 2019.

Para cúmulo, numa fase final de um Campeonato Europeu. Diogo confessaria, já a caminho dos "quartos", que se limitou a seguir o instinto. Mais até do que as indicações dos "estudiosos" e as anotações dos respectivos compêndios sobre como os eslovenos marcam as grandes penalidades.

Os menos distraídos e nervosos aperceberam-se, certamente, da presença de Ricardo Pereira, herói do desempate com Inglaterra tanto no Euro 2004 como no Mundial 2006 (também na Alemanha), em que usou a capa de herói ao defender três penáltis nos quartos-de-final de Gelsenkirchen.

Sven-Göran Eriksson, Frank Lampard, Steven Gerrard e Jamie Carragher nunca o esquecerão. Desta feita, o drama quase nem existiu. Tudo por culpa de “D. Diogo”, cognome que começou a circular no balneário português no final da noite.

Muitos terão procurado no baú das memórias um feito desta magnitude, só com paralelo na já distante final da Taça dos Campeões Europeus de 1985/86, em Sevilha, quando Helmuth Duckadam, guarda-redes romeno do Steaua Bucarest, defendeu quatro penáltis consecutivos frente ao Barcelona de Bernd Schuster e Steve Archibald.

Na baliza "culé", Javier Urruti passou quase despercebido, apesar de ter "salvado" os dois primeiros remates dos romenos. Noutras circunstâncias, teria direito a uma estátua.

Desde então, não há relatos de uma proeza de tal grandeza, muito menos em Europeus, competição que, dez anos antes, na quinta edição do torneio, então realizada na Jugoslávia (com apenas quatro equipas), tinha introduzido a novidade dos penáltis como recurso para desempate.

O método foi usado pela primeira vez na história na final de Belgrado, entre Checoslováquia e Alemanha, quando Antonín Panenka iludiu Sepp Meier para dar o título aos checos e imortalizar o famoso penálti que ganhou o nome do autor e uma dimensão universal.

Mas voltemos a Diogo Costa, que na Champions League já tinha defendido três penáltis em três jogos consecutivos. Agora, Diogo superou-se e fez o "três em um" e, de uma penada, saltou para o topo da galeria dos guarda-redes com mais penáltis defendidos em Europeus, a par de "monstros" como Gianluigi Buffon, Iker Casillas, Unai Simón e Gianluigi Donnarumma​, com a vantagem de ser o único a fazê-lo num só jogo e sem ter concedido nenhum golo (caso único).

Num total de 23 encontros "resolvidos" nos penáltis, Buffon precisou de três jogos, enquanto Casillas, Simón e Donnarumma defenderam três penáltis em dois desempates. Uma menção honrosa para Rui Patrício, com dois penáltis defendidos (e sete encaixados) em dois jogos (uma vitória e uma eliminação). Ricardo Pereira defendeu, sem luvas, o último (de Darius Vassel) frente a Inglaterra, em 2004, e marcou o decisivo a David James, um pormenor à atenção de Diogo Costa.

Também em termos colectivos, Portugal iguala a selecção da Checoslováquia/República Checa, com três (em quatro) apuramentos graças aos penáltis, apenas atrás de Itália e Espanha (4) e à frente de Alemanha (2), Dinamarca, Inglaterra, França, Países Baixos, Polónia, Suíça e Turquia.

Graças a Diogo Costa, que no prolongamento já dera sinais de que rumaria a Hamburgo como herói nacional, salvando a pele de Pepe, Ronaldo e Martínez, os milhões de portugueses tiveram a mais rápida e tranquila sessão de penáltis da história.

Para a estatística fica o registo do desempate mais curto (seis cobranças), batendo a marca de 2008 (Euro disputado na Suíça e na Áustria), quando a Turquia "arrumou" a Croácia (3-1) com sete remates.

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