Palcos da semana: das tábuas ao jazz, com liberdade e desejo

O Festival de Almada, o Matosinhos em Jazz, o AgitÁgueda, a MAPS - Mostra de Artes Performativas de Setúbal e Um Eléctrico Chamado Desejo a passar por Lisboa.

artes-performativas,p2,festival-almada,teatro,culturaipsilon,musica,
Fotogaleria
E Agora, Miss Knife Tem Um Par… no Festival de Almada JULIEN BENHAMOU
artes-performativas,p2,festival-almada,teatro,culturaipsilon,musica,
Fotogaleria
Moses Boyd é um dos convidados do Matosinhos em Jazz DR
artes-performativas,p2,festival-almada,teatro,culturaipsilon,musica,
Fotogaleria
A Primeiros Sintomas entra n'Um Eléctrico Chamado Desejo Bruno Bravo
artes-performativas,p2,festival-almada,teatro,culturaipsilon,musica,
Fotogaleria
AgitÁgueda na rua DR
APPACDM de Setúbal
Fotogaleria
Medo a Caminho de Rui Catalão DR
Ouça este artigo
00:00
05:22

Duas tábuas e uma paixão

Olivier Py entra em cena com o seu alter ego Miss Knife, a drag queen que dá a cara em E Agora, Miss Knife Tem Um Par…, espectáculo que junta o cabaré, o music hall e o recital, onde partilha o palco (e o amor pela chanson) com o pianista Antoni Sykopoulos. Samuel Achache e o Théâtre des Bouffes du Nord piscam o olho ao vaudeville e ao burlesco em Sem Tambor. E Jeanne Desoubeaux e a Compagnie Maurice et Les Autres revelam Onde Vou à Noite partindo do mito de Orfeu e Eurídice e da ópera de Christoph W. Gluck.

O Festival de Almada, que este ano faz as contas a 41 edições, alinha o cartaz com as notas de uma França musical, prestando ainda homenagem à companhia de teatro nacional A Barraca e aos 50 anos de Abril.

A revolução vai então a palco em forma de teatro, música, dança, encontros, colóquios e exposições, seja com a prata da casa (a Companhia de Teatro de Almada, a Formiga Atómica, a Causas Comuns, O Bando, o Teatro do Noroeste, os Artistas Unidos e o Teatro do Bairro/Ar de Filmes, por exemplo), seja com criadores externos, como Hanane Hajj Ali (Líbano), a Compagnia Marionettistica Carlo Colla & Figli (Itália), o Centro Dramático Galego (Espanha) ou a Gandini Juggling (Inglaterra).

Tudo alimentado pela matriz humanista e pelo valor da diferença porque, salienta o director artístico Rodrigo Francisco, “o teatro é outra loiça: precisa da energia gerada entre quem faz e quem assiste”, não sendo consumível de forma passiva. Ou como se diz que Molière diria, um lugar onde tudo se resume a “duas tábuas e uma paixão”.

Matosinhos em Jazz

A cortina do festival abre com a habitual exposição com reinterpretações de capas icónicas de álbuns de jazz por artistas portugueses. Este ano, os convocados a dar asas à criatividade são Dino D'Santiago, Cláudia Guerreiro, Mariana A Miserável, Raquel Belli e Francisco Fonseca.

No que toca à música propriamente dita, e sempre ao sábado e domingo, dão-se a escutar as notas de Mário Costa, Nout Trio, Moses Boyd, Jasmine Myra, Ego Ella May e Eduardo Cardinho. Para o encerramento, a 25 e 26 de Julho, estão reservados dois momentos especiais: o primeiro presta tributo ao trompetista de jazz americano Thad Jones e é servido por Nick Marchione & Orquestra Jazz de Matosinhos; o segundo vem apresentado como “um exercício de uma sinfonietta pensada como um código informático e contaminada pelo hip-hop, grime e electro”, cortesia da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música & DJ Switch.

Primeiros Sintomas à mercê do desejo

Saída da pena de Tennessee Williams, Um Eléctrico Chamado Desejo é uma das obras-primas da dramaturgia contemporânea, imortalizada pela adaptação cinematográfica de Elia Kazan, em 1951, com Vivien Leigh e Marlon Brando nos papéis principais.

Centra-se na história de Blanche DuBois, uma frágil e solitária beldade sulista que decide visitar a sua irmã Stella num bairro pobre de Nova Orleães. É aí que se confronta com um cunhado sexualmente agressivo, que tanto a repele quanto atrai. Entre a magia da imaginação e o moralismo, a tensão vai crescendo até ao limite.

Bruno Bravo encena esta versão para a Primeiros Sintomas, que enquadra a peça no “pós-guerra de uma América multicolor, industrial, sexista, viril (...), com sombras de cinema, álcool e velhas plantações de algodão em ruínas”. O elenco vem encabeçado por Sandra Faleiro, António Mortágua, Joana Santos e Nuno Nunes.

Chapéus há muitos. E depois há AgitÁgueda

Águeda volta a transformar-se num palco gigante e a convocar nativos e forasteiros para um festival de “cor e dias felizes”.

Dona e senhora das “ruas mais coloridas e instagramáveis do mundo” (créditos atestados pela CNN, Time Out e Condé Nast Traveller, entre outros), a cidade torna a pôr a emblemática instalação artística The Umbrella Sky no centro do manifesto do AgitÁgueda - Art Festival, mas não se deita à sombra desse céu enfeitado por milhares de chapéus-de-chuva coloridos.

Ao longo de 23 dias, há muito por onde andar e outro tanto para ver entre intervenções artísticas que podem ir dos bancos de jardim às empenas dos edifícios, uma feira de artesanato, um Carnaval Fora D' Horas, o Color Day, o Encontro de Estátuas Vivas, eventos náuticos e desportivos, actividades infantis, tasquinhas e, até, uma piscina fluvial.

A música ao vivo é outra parte importante: Nininho Vaz Maia, Manu Chao, Taxi, Plutonio, Van Zee, Mizzy Miles, David Fonseca, Ivandro e Miguel Araújo com Os Quatro e Meia estão entre os muitos artistas convocados para animar esta edição.

MAPS da liberdade

Música, performance, cinema e formação. É nestas coordenadas que se movimenta a MAPS - Mostra de Artes Performativas de Setúbal que ocupa vários espaços da Baixa sadina com criações inspiradas na Liberdade, o tema desta sexta edição.

No programa focado em “promover o pensamento e reflectir sobre a condição humana”, a ideia passa por reunir testemunhos plurais para activar os sentidos e a memória, desafiando a entrar num espaço revolucionário e visionário onde se vê a sociedade como “um lugar de partilha, de atenção, de escuta da diferença, de histórias e narrativas silenciadas, apagadas, abafadas”, sublinha o município.

Para a causa contribuem, por exemplo, o Estendal da Liberdade, a dança Vanishing de Bruno Senune e Beatriz Valentim, a Labia de Jo Castro, o Medo a Caminho de Rui Catalão, as Antiprincesas de Cláudia Gaiolas, o concerto/documentário Abalada do Cante, os sentimentos de pertença de Raquel André e a colecção Morrer pelos Passarinhos de Lígia Soares e Henrique Furtado Vieira.

Sugerir correcção
Comentar