Chega o Verão e o Faial é azul. E é esse azulão que há muito lhe dá fama, nome e marca. A ilha azul, o que, já se sabe, deve tudo às hortênsias. E, essas, estão agora a caminho do seu esplendor, um espectáculo, no momento, "especialmente nas zonas altas da ilha", disse-me há minutos o Pedro Rosa, que preside à Associação de Turismo Sustentável local e com quem andei a passear pela ilha. É um caso curioso pelos Açores, o da planta invasora que acaba a tornar-se imagem de marca. Não em vão, é um dilema, até político: formalmente potente invasora, sim, mas desejada por uns e por outros. Por sinal, o dilema da hortênsia até anda a dar que falar no arquipélago e devem estar para breve decisões, entre o combate à invasão e a excepção.

Mas aqui o que mais nos interessa é o nosso Faial, a ilha que é azul hortênsia, verdadeiramente, por dois meses. E o resto do ano? Foi isso que andámos a descobrir (um bocadinho) nesta ilha que já tem o Verão turístico mais que certo, mas que se quer valer de outros azuis e de outras cores para chamar visitas na época baixa. Faial, muito mais que azul? Sim, definitivamente, muito mais que Verão. Faça chuva, faça sol. 

Aquela do dia com as quatro estações? Temos. Chuva até os campos vibrarem ao sol? Temos. Paisagens, trilhos, baías, florestas, arribas, praias de tirar o fôlego? Ora essa! Cidade-mar, arte e história, centro do mundo ao longo dos séculos? Até de veleiro, de cabo submarino ou hidroavião. Mesas fartas, gente hospitaleira e com vontade de conversar? Por quem sois, que aqui não faltam cenários de filme, muito menos histórias tamanho mundo.

 
           
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Pelo cinza lunar da terra do vulcão dos Capelinhos, pelos trilhos e florestas verdejantes em tons primaveris (os outonais parece que também são espectaculares) a que o Fred nos levou, pelas praias de areia negra, pelas baías. Pelas histórias de homens e baleias contadas pela Carla, pelas histórias de voltas ao mundo solitárias contadas por esse aventureiro chamado Genuíno, pelas histórias de um século de Peter contadas já em terceira geração por José Azevedo, pelas histórias de resistência a passo de corrida de Mário Leal, que fez do Faial epicentro do trail, pelas baleais e golfinhos e o mar em geral segundo Pedro, pelas comidas da Aldina, pelas harmonizações da Mariana e do Franz, pelas farturas do Rumar ou do Muralhas, pelas surpresas do Príncipe, sei lá eu. São muitas conversas que temos de ter, valham-nos os queijos do Nuno, os gelados da Joana ou as vinhas da Cinzia renascidas das cinzas (é poético porque é assim). Há mistérios no Faial, são muitos mundos; fica o suspense, que isto foi só desbravar território, felizmente contando com a ajuda das fotografias cintilantes do Daniel Rocha.

Quanto às cores, e para não pensarem que isto é tudo uma cabala para tirar o azul ao Faial - até porque todo o ano há aquele azul atlântico, aquele azul celestial -, permitam-me citar a Antónia Reis​, por acaso uma portuense que se mudou para o Faial por amores ao Pedro Rosa, que já citei no início desta carta. Contava-me ela, que já foi professora de música e tem uma sensibilidade apurada para artes e artistas, que certo dia foi de viagem ao continente e, ao chegar ao Faial, é que percebeu uma coisa: que o azul do Faial é que é azul, azul-marinho vivo, um azul-azul. Algo mais resplandece no Faial. Teremos de rever este azul. E abrir o olho para as outras cores todas.

Espero que não se tenha percebido que o Faial me arrebatou. Para esconder um pouco mais isso, deixem-me parafrasear Miguel Esteves Cardoso, que ele não se vai importar nada: "abro o Faial e fico cheio de medo: isto não é uma ilha. É um labirinto. É um segredo. Não estamos autorizados a ver isto!​". Felizmente, no caso, estamos. Até convidados a entrar no segredo. Já agora, na verdade, a frase original do Miguel é sobre figos, que é sobre isso que ele escreve esta semana na Fugas. Mas, já se sabe, isto anda tudo ligado e este homem quando escreve sobre figos, escreve sobre o mundo.