Albuquerque insiste em ficar, IL e PAN apresentam condições para negociar

Líder regional do Chega continua a fazer depender o seu apoio da saída de Miguel Albuquerque do Governo. André Ventura também. Do lado da IL e do PAN há sinais de abertura ao diálogo.

Foto
Miguel albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
Ouça este artigo
00:00
05:31

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O presidente do Governo Regional da Madeira, o social-democrata Miguel Albuquerque, reiterou nesta quarta-feira que vai manter-se no cargo e apelou ao bom senso, considerando que a decisão do Chega sobre o Programa do executivo depende das negociações em curso.

"Vamos ver. Ainda estamos em negociações, estamos em conversações, vamos ver. Vai depender destes dias", disse Miguel Albuquerque, quando questionado sobre as declarações do líder do Chega-Madeira, Miguel Castro, ao programa "O Parlamento" da RTP do arquipélago, que vai ser emitido hoje à noite.

De acordo com excertos do programa que a RTP-Madeira já emitiu, Miguel Castro, que é também deputado no parlamento madeirense, voltou a dizer que só votará favoravelmente o Programa de Governo se Miguel Albuquerque sair. "Se recusar sair, o nosso sentido de voto será contra a passagem do Programa de Governo", afirmou.

Na segunda-feira, no final de um encontro do Governo Regional com os partidos, Miguel Castro remeteu para o final da semana uma resposta sobre se haveria "entendimento ou não". Também na segunda-feira, o líder do Chega, André Ventura disse que a "indicação nacional será sempre com Miguel Albuquerque, não".

"Eu vejo difícil que esse apoio exista [dos deputados regionais do Chega] enquanto Miguel Albuquerque subsistir", acrescentou André Ventura, indicando só ver essa possibilidade "num cenário de absoluta necessidade, de absoluta instabilidade e caos".

Hoje, em declarações aos jornalistas à margem de uma visita a uma empresa na freguesia do Santo da Serra, concelho de Santa Cruz, Miguel Albuquerque reiterou "não haver a possibilidade" de se afastar, porque foi eleito pelos madeirenses. "Portanto, o que temos de fazer agora é continuar a conversar com os partidos", reforçou, adiantando acreditar "no bom senso dos titulares dos partidos".

Segundo o responsável madeirense, o PSD vai "escutar todas as bases de negociação", mas um cenário de eleições regionais antecipadas "nunca é descartável". De qualquer forma, acrescentou, "os cidadãos não querem eleições" e "há um quadro que está legitimado e está definido, e é dentro desse quadro que [...] é o reflexo da vontade popular" que é preciso encontrar entendimento.

PAN disponível

IL e PAN estão comprometidos com as negociações. A deputada única do PAN no parlamento madeirense disse hoje que o partido está disponível para viabilizar o Programa do Governo, mas realçou que o sentido de voto dependerá do documento final, que inclui medidas também de outros partidos.

Mónica Freitas falava aos jornalistas no Funchal, à saída de uma reunião com o Governo Regional (PSD), representado pelos secretários da Educação (Jorge Carvalho) e das Finanças (Rogério Gouveia), e pelo chefe de gabinete do presidente do executivo insular, Rui Abreu, para consensualizar medidas para o Programa do Governo.

"A partir do momento em que está aberto ao diálogo e a partir do momento em que conseguimos ter estes consensos e conseguimos trabalhar em conjunto, alinhavando aqueles que são os nossos valores e os nossos princípios, nós estamos disponíveis para deixar passar", afirmou.

A deputada do PAN — que na legislatura anterior assinou um acordo de incidência parlamentar com o PSD alertou, porém, que este documento não contém só medidas do seu partido.

"Depende de medidas de outros partidos e, nomeadamente, de partidos que têm ideais muito diferentes também do PAN. E, portanto, nós teremos que obviamente analisar um documento final", frisou, remetendo o sentido de voto do partido para essa altura.

"Mais do que o sentido de voto, neste momento o que é importante, de facto, é que todos os partidos possam dialogar, negociar, dizer exactamente o que é que pretendem para o futuro da Madeira e podermos todos juntos chegar a um consenso, e fazer um Programa que vá ao encontro dos ideais e dos princípios de todos os partidos que aqui se quiseram fazer representar", reforçou.

Sobre as medidas do PAN, a deputada referiu que já estão incluídas as suas prioridades no Programa do Governo apresentado na semana passada e, entretanto, retirado da discussão, pelo que não serão acrescentadas outras.

"Aquilo que nós estabelecemos nesta reunião é quais é que seriam para nós as prioridades num primeiro ano e num primeiro Orçamento", apontou, destacando a revisão do Estatuto do Animal, as questões da igualdade de género, e a esterilização e vacinação de animais gratuita de forma gradual.

Mónica Freitas afirmou ainda que o facto de o Chega participar nestas reuniões com o Governo Regional "é sinal de que existe alguma abertura" de negociação, defendendo que "é preciso agora é perceber se, de facto, essa abertura é no sentido de caminhar para uma solução ou se é para continuar a colocar barreiras".

IL apresenta caderno de encargos

O deputado único da IL, Nuno Morna, apresentou também ao executivo regional um caderno de encargos com cinco pontos que considera essenciais para abster-se na votação do Programa do Governo.

"A ideia não é haver um acordo, é integrar coisas que nós consideramos essenciais estar no Programa do Governo para que nós possamos mudar o nosso voto de contra para uma abstenção", afirmou Nuno Morna à saída da mesma reunião com o executivo. O liberal assegurou, ainda antes da reunião, que o partido não votará a favor do documento, que é discutido sob forma de moção de confiança, argumentando que não confia no presidente do Governo Regional.

No final do encontro de hoje, o deputado indicou que dois dos cinco pontos em cima da mesa ficaram negociados com o Governo madeirense: o portal da transparência, que será implementado, e a tomada de medidas para que "nos próximos quatro anos" os madeirenses possam pagar directamente o valor dos 86 euros sem que tenham de pagar as viagens aéreas na totalidade e só depois reembolsados, tal como já é possível com os estudantes, que pagam 65 euros.

Quanto às restantes exigências (redução de impostos, redução das listas de espera na saúde e redução anual da dívida do Estado) serão discutidas numa nova reunião agendada para sexta-feira, adiantou.