Jornalista norte-americano começa a ser julgado na Rússia por espionagem

Evan Gershkovich está detido desde Março de 2023 sob suspeita de estar a recolher informações confidenciais sobre a indústria de armamento russa. Washington diz que acusações são falsas.

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Gershkovich alguns momentos antes do início do julgamento por espionagem Evgenia Novozhenina / REUTERS
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O jornalista norte-americano Evan Gershkovich, detido na Rússia desde Março do ano passado, começou a ser julgado esta quarta-feira num caso em que responde por acusações de espionagem.

Foram divulgadas imagens do jornalista de 32 anos dentro de uma caixa de vidro antes do início da primeira sessão do julgamento, que decorre à porta fechada no Tribunal Regional de Sverdlovsk, em Ecaterimburgo.

Gershkovich foi detido em Março de 2023 pelos serviços de informações russos, o FSB, sob suspeita de estar a recolher informações confidenciais sobre a indústria de armamento russa a mando da CIA. O jornal para o qual o repórter trabalha, o Wall Street Journal, e o Governo norte-americano rejeitam as acusações e têm pedido a libertação do jornalista.

Desde que foi detido, Gershkovich tem estado preso na prisão de Lefortovo, na região de Moscovo, conhecida por ser isolada. Se for condenado, o norte-americano pode enfrentar uma pena que pode chegar aos 20 anos de prisão.

A detenção de Gershkovich chocou grande parte da comunidade internacional por se tratar da prisão do primeiro jornalista ocidental na Rússia em várias décadas. Apesar de reduzir cada vez mais o espaço para a liberdade de imprensa, o Kremlin não havia cruzado este limite até agora.

“Quando este caso for apresentado a um juiz esta semana, não será um julgamento como nós o entendemos, com presunção de inocência e procura pela verdade”, afirmou a directora do Wall Street Journal, Emma Tucker, poucos dias antes do início do julgamento.

“Em vez disso, será feito em segredo. Não foi apresentada qualquer prova. E já conhecemos a conclusão: esta acusação falsa de espionagem irá dar origem a uma condenação falsa de um homem inocente que pode ficar 20 anos na cadeia simplesmente por estar a fazer o seu trabalho. E um excelente trabalho, já agora”, acrescentou Tucker.

O Presidente russo, Vladimir Putin, já disse publicamente estar aberto a uma eventual troca de presos entre a Rússia e os EUA, mas com as relações entre os dois países a atravessar o momento mais conturbado desde o fim da Guerra Fria é incerto se haverá margem para negociações.

Washington acusa a Rússia de querer conduzir “diplomacia de reféns”. Para além de Gershkovich, foi indicado outro norte-americano preso, Paul Whelan, que os EUA dizem ter sido detido ilegalmente e é exigida a sua libertação.