Carta de Einstein precursora do Projecto Manhattan pode ser vendida por 3,7 milhões de euros

A carta faz parte do espólio de Paul Allen, co-fundador da Microsoft. Einstein temia que a Alemanha nazi investisse em energia nuclear e pedia aos EUA que contactassem físicos especialistas.

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Não é a primeira vez que a leiloeira Christie's vende uma carta de Einstein: em 2018, um documento foi vendido por cerca de 2,5 milhões de euros Ian Waldie/Reuters
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Em Agosto de 1939, Albert Einstein escreveu uma carta ao então Presidente dos Estados Unidos, Franklin J. Roosevelt. O cientista alertava para a possibilidade de a Alemanha nazi desenvolver uma bomba atómica — descobertas recentes sobre energia nuclear faziam adivinhar que esse seria o próximo passo dos alemães. A primeira carta que escreveu pode ser vista na Biblioteca Presidencial Franklin J. Roosevelt, em Nova Iorque. Uma versão mais curta, que Leo Szilard (um dos cientistas que estudaram a energia nuclear) guardou, vai ser leiloada. E pode ser vendida por quatro milhões de dólares (cerca de 3,7 milhões de euros).

A carta teve poucas moradas desde que foi escrita há quase 90 anos: Leo Szilard, que ajudou Albert Einstein a escrevê-la, guardou-a até à sua morte; depois, foi Paul Allen, co-fundador da Microsoft, que a adquiriu num leilão — foi o primeiro documento histórico do século XX a ser vendido por mais de um milhão de dólares, diz o jornal The Wall Street Journal.

Einstein e Szilard pediam a Roosevelt que investisse na investigação da energia nuclear antes que o outro lado da barricada fosse mais rápido. E alertavam para o perigo iminente de destruição em grande escala se nada fosse feito e que os alemães poderiam usar as descobertas mais recentes e construir “bombas extremamente poderosas”.

Nessa altura, Einstein já era prémio Nobel da Física há quase 20 anos — também por isso foi ele quem assinou a carta — e era conhecido do Presidente norte-americano, com quem já tinha convivido. Deu-lhe ouvidos e daí nasceu o Projecto Manhattan, que deu origem à bomba atómica criada pela equipa de J. Robert Oppenheimer, que destroçou Hiroxima e Nagasáqui, em 1945, causando a morte de mais de 200 mil pessoas.

“Senhor: Trabalhos recentes em física nuclear tornaram provável que o urânio possa ser transformado numa nova e importante fonte de energia.” Esta é a primeira frase da carta de duas páginas, uma espécie de “segunda versão” — mais curta, mas muito parecida — da que possivelmente mudou o curso da II Guerra Mundial. Einstein continua, instando a Casa Branca a contactar os cientistas especialistas na área e avisando que em solo norte-americano há pouco urânio. Para além disso, preocupava-o que a Alemanha tivesse parado de exportar o metal — era possível que tivessem tido acesso aos mesmos estudos e podiam usar esse conhecimento para criar novas armas.

Em Setembro, a carta que Leo Szilard guardou e Paul Allen manteve terá uma nova casa: a leiloeira Christie’s espera que seja vendida por quatro milhões de dólares. Não é a primeira vez que a Christies vende uma carta de Einstein: em 2018, um documento onde escreveu a célebre frase “A palavra Deus não é para mim mais do que a expressão e produto da fraqueza humana” foi vendido por 2,5 milhões de euros.

Há dois anos, a colecção de arte de Allen foi vendida por cerca de 1500 milhões de euros, tornando-se a colecção mais cara vendida em leilão. O espólio do co-fundador da Microsoft tem sido leiloado desde a sua morte, em 2018.

Apesar de Allen ter a maior parte da sua colecção exposta no seu museu Living Computers: Museum + Labs (agora fechado), as duas folhas escritas por Einstein sempre estiveram resguardadas. “Não há dúvidas de que ele sabia que era um dos documentos mais importantes do século XX, e isso não é o tipo de objecto que se deixe pendurado no escritório”, disse Marc Porter, presidente da Christie’s norte-americana, em declarações ao Wall Street Journal.

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