A ignomínia das escutas e os difíceis dilemas do jornalismo

Ninguém me convence de que, em pleno século XXI, não é possível garantir que a consulta, utilização e divulgação de documentos em segredo de justiça não é passível de ser rastreada.

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Já começa a ser difícil arranjar palavras para descrever o despautério que constitui a recorrente violação do segredo de justiça em benefício dos mais variados – e sempre cobardemente ocultos – interesses. E já é mesmo impossível calar a indignação com a leviandade com que neste país se usa e abusa das escutas naquilo que é, para todos os efeitos, uma institucionalização de facto de uma espécie de pesca moralista por arrasto que não faz distinção entre crimes graves, crimes menores, simples pecadilhos e mesmo absolutas irrelevâncias legais. Como se tudo se equivalesse e como se tudo justificasse os mais drásticos dos meios. Como se em nome de uma qualquer conceção puritana da natureza humana e da vida, e para garantir que mais nenhuma espécie de pecado paire sobre a face da terra, tivéssemos aceitado abdicar de qualquer réstia de privacidade e nos tivéssemos resignado a ver a nossa vida inteira arquivada, algures nas profundezas de um qualquer arquivo da república. Não vá o diabo tecê-las.

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