Há via da conciliação?

Quando se percebe uma deficiência estrutural, sedimentada há muitos anos, é preciso tratá-la, evidentemente. A forma e os caminhos são determinantes para não se gerarem de imediato anticorpos.

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Gerir um país em crise não é o mesmo que gerir uma empresa ou o nosso lar. A carga da política mais utilitarista e virada para o bem comum exige competências do saber das massas, da governança e da sustentabilidade de uma nação.

Uma ministra em Inglaterra, Truss, pela sua boa-fé e intenções, quis tomar “decisões impopulares”, como levantar o limite aos bónus aos banqueiros e reverter o aumento de impostos, para fazer crescer a economia do país, e desequilibrou seriamente toda a economia inglesa. Fez bem? Que medidas paralelas deveriam ter sido consideradas para que não se puxasse o lençol de outros poderes? Lobbies poderosos? Estratégias que deviam ser conciliadas com outras medidas?

Quando se percebe uma deficiência estrutural, sedimentada há muitos anos, é preciso tratá-la, evidentemente. A forma e os caminhos são determinantes para não se gerarem de imediato anticorpos. Neste processo, a comunicação (de crise, sempre) deve ser feita com pinças, por peritos, de uma forma nítida, coerente, sem erros, e atender às forças contrárias, aos aliados que existem e apoiam, mas também aos efeitos, às vezes penosos, das palavras ditas e registadas para todo o sempre.

Rosenberg, na sua comunicação não violenta, abastece-nos da apologia dos valores, das forças de carácter para unir um povo. Segundo este autor, é na serenidade que se encontram equilíbrios, mesmo nos casos em que há evidência de que as situações deviam ser alteradas, ajustadas, melhoradas.

Quem está no poder e na gestão tem a responsabilidade da conciliação, pois é por esta via que se conseguem os mais delicados acordos e os aliados mais poderosos, mesmo que em patamares diferentes.

É pela envolvência e a interdisciplinaridade que se obtêm consensos. William Ury, um grande negociador, refere que "a escolha que enfrentamos não é livrar-nos do conflito, mas transformá-lo de luta destrutiva em negociação criativa, construtiva e colaborativa".

A racionalidade das teorias obtidas na academia e na experiência dos grandes mestres permitem um serviço com vista ao bem público. Os elogios são públicos e as chamadas de atenção, privadas. Mesmo quando falamos de políticas que se querem disruptivas e para uma melhor saúde pública.

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