Cartas ao director

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Comissão de inquérito

Quem não for capaz de se colocar, a sério, no papel de Daniela Martins [mãe das gémeas brasileiras], que não comente nem faça perguntas parvas. Se eu estivesse no seu lugar, tentaria virar este mundo de burocracias e cunhas, não vale a pena ignorar, para conseguir obter o mesmo que ela conseguiu. Um dia, as filhas lhe agradecerão do coração. Estas coisas nunca se esquecem, é certo, mas o que eu faria numa comissão de inquérito, fosse ela qual fosse, seria dizer que não me lembrava dos factos que ocorreram há tantos anos.

A gratidão, para mim, não se paga denunciando aqueles que nos ajudaram num momento tão difícil. De mim, nunca esperem isso. Para bom entendedor, meia palavra basta. Todos nós percebemos tudo e certamente faríamos o mesmo. O resto são fantasias.

José Rebelo, Caparica

Anacrónica e as gémeas

Ana Sá Lopes escreve no PÚBLICO de ontem uma excelente crónica. Efectivamente até dói a desumanidade com que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) questionou uma mãe que tudo fez para salvar as suas filhas. Como qualquer mãe faria. A crueldade com que foi humilhada pela CPI configurou um péssimo serviço à democracia. Deixemos à Justiça a busca da verdade. Ao Parlamento incumbe principalmente ser órgão legislativo e não palco de vaidades, propaganda e fogos-fátuos na espuma dos dias.

J. Sousa Dias, Ourém

Carta a João Almeida

Estimado João Almeida: agora que terminou a Volta à Suíça e vai começar o Tour, não podia deixar de lhe escrever. O senhor é a melhor coisa que nos aconteceu no ciclismo em muitos anos. Segui atentamente a competição suíça e regozijei-me pelo seu extraordinário momento de forma. Mas não consegui perceber porque escolheu cortar a meta da sétima etapa de mão dada com o seu companheiro mas rival Yates. Afinal os interesses da equipa já estavam acautelados. As competições fizeram-se para ganhar, não para ficar em segundo, que é o primeiro dos últimos. Ficámos sem saber se o inglês ganhou (essa etapa e a volta) porque foi melhor e, pior, se você podia ter ganho e escolheu ficar em segundo. Muito semelhante à medalha de ouro olímpica que os dois saltadores em altura “negociaram” nos últimos Jogos. Deviam ter competido até haver um vencedor. Repito, as competições são para ganhar, não para negociar. João, por favor, não se conforme, prefiro mil vezes um candidato a campeão derrotado do que um gregário de luxo. Gregarismo é coisa de rebanho de ovelhas. E boa sorte para o Tour.

José Pombal, Vila Nova de Gaia

Eurocentrismo e o mundo

Em consequência dos descobrimentos portugueses e da expansão global do comércio, durante os últimos 500 anos o mundo girou à volta da Europa Ocidental, e nos últimos 100 anos em conjunto com os Estados Unidos da América (EUA). Genericamente, chamado eurocentrismo. Este eurocentrismo significa que o comércio, a indústria, a cultura e a actividade social giram em torno da Europa. Após a II Guerra Mundial, o ascenso dos EUA e da Europa Ocidental na economia levou ainda ao aumento da influência global também nas áreas da cultura/ideologia. Nos últimos 50 anos, com o desenvolvimento industrial do Oriente, em especial da China, o eurocentrismo está em perda na medida em que se fortalece a indústria no Oriente. Hoje a fábrica do mundo é a China. Agora existe uma luta económica entre o Oriente (China+Rússia), por um lado, e por outro, EUA/Europa Ocidental. Regra geral, as lutas económicas precedem as guerras. Será que estamos a aproximar-nos do limitar da guerra entre estas duas partes do mundo?

Mário Pires Miguel, Reboleira

Ganhar com a guerra

Quem ganha com a guerra Ucrânia/Rússia é o complexo militar e industrial norte-americano. O eternizar da guerra vai ser uma monumental mina de ouro para os fabricantes de armas dos EUA. Armar a Europa é outra narrativa para alavancar a economia de guerra do país que lançou a primeira bomba atómica, varreu o Vietname com napalm e continua a enviar armamento para Israel. Os EUA não têm 300 anos e é incontável o número de golpes de Estado que patrocinaram. Lembram-se da criminosa invasão do Iraque? Não houve crimes de guerra?

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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