Rússia poderá diminuir tempo de decisão para usar armas nucleares, diz deputado

Presidente da comissão parlamentar de defesa da Duma afirma que, se as ameaças contra Moscovo aumentarem, a doutrina nuclear terá de ser revista. Putin falou na semana passada na revisão da doutrina.

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O Presidente russo, Vladimir Putin poderá vir a rever a doutrina nuclear da Rússia Sergey Guneev / VIA REUTERS
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A Rússia, a maior potência nuclear do mundo, pode vir a reduzir o tempo de tomada de decisão estipulado na sua doutrina oficial para o uso de armas nucleares, se Moscovo acreditar que as ameaças estão a aumentar, afirmou o presidente da comissão parlamentar de defesa.

A guerra na Ucrânia desencadeou o maior confronto entre a Rússia e o Ocidente desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, com o Presidente Vladimir Putin a afirmar no mês passado que a Rússia poderá alterar a sua doutrina nuclear oficial, que define as condições em que estas armas podem ser usadas.

Este domingo, Andrei Kartapolov, presidente da comissão parlamentar de defesa da Duma, foi citado pela agência estatal RIA dizendo que se as ameaças aumentarem, o tempo para a tomada de decisão para usar estas armas poderá ser alterado.

“Se virmos que os desafios e as ameaças aumentam, isso significa que poderemos corrigir alguma coisa [na doutrina] em relação ao tempo para o uso de armas nucleares e para a decisão de as usar”, disse Kartapolov.

Kartapolov, que chegou a comandar as forças russas na Síria e é hoje deputado pelo partido governamental Rússia Unida, acrescentou ser demasiado prematuro para se falar em mudanças específicas na doutrina nuclear.

A doutrina nuclear russa de 2020 define as situações em que o Presidente poderá considerar o uso de armas nucleares: de uma forma geral, como resposta a um ataque em que sejam usadas armas nucleares ou de destruição maciça, ou de armamento convencional, “quando a própria existência do Estado esteja sob ameaça”.

A Rússia e os Estados Unidos são, de longe, as maiores potências nucleares, representando cerca de 88% das armas nucleares no planeta, de acordo com a Federação de Cientistas Americanos.

Ambos têm modernizado os seus arsenais nucleares, enquanto a China tem aumentado rapidamente o seu próprio arsenal.

Putin disse este mês que a Rússia não tem necessidade de recorrer a armas nucleares para assegurar a vitória na Ucrânia, dando o sinal mais forte até à data de que o conflito mais sangrento na Europa desde a II Guerra Mundial não irá escalar para uma guerra nuclear.

Pressão da linha dura

No entanto, Putin também não excluiu mudanças na doutrina nuclear russa. Isto foi interpretado como um aceno à pressão da linha dura da elite russa que considera que o Presidente deveria poder agir de forma mais eficaz no que toca ao nuclear e reduzir o patamar para o seu uso.

Putin voltou a dizer na semana passada que a doutrina nuclear poderia ser revista porque os adversários da Rússia estão a desenvolver dispositivos nucleares de muito baixo rendimento.

Tanto Moscovo como Washington fizeram grandes cortes no número de armas após o colapso da União Soviética, mas depois de a arquitectura de controlo armamentista da Guerra Fria se ter desfeito, muitos diplomatas receiam uma nova corrida às armas.

Os EUA poderão ter de instalar mais armas nucleares estratégicas nos próximos anos para travar as ameaças crescentes da Rússia, China e de outros adversários, disse um responsável da Casa Branca este mês.

A Rússia afirmou estar interessada em discutir o controlo de armas com os EUA, mas apenas como parte de uma discussão mais alargada sobre a segurança europeia e o futuro da Ucrânia.

A Postura Nuclear dos EUA de 2022 refere que a Rússia e a China estão a desenvolver os seus arsenais nucleares de tal forma que, na década de 2030, “os EUA irão enfrentar, pela primeira vez na sua história, duas potências nucleares de grande dimensão como competidores estratégicos e potenciais adversários”.