• Nem festeira nem exibicionista, a ilha das Baleares é um convite a desacelerar. E não só nas praias. Entre as águas cristalinas, vamos sem pressas à descoberta. "Eu ao olhar quero ver", como Chillida

Para quem tem que estar a trabalhar por estes dias, talvez, como este seu escriba, até sentado a uma secretária, a olhar para ecrãs, a bater em teclados, isto torna-se difícil. O mesmo se o caro leitor, a cara leitora, tiver de celebrar a chegada do Verão a tirar cervejas para outros beberem, a trabalhar numa fábrica, a fazer camas, a despertar de madrugada para preparar o forno, a bater nas teclas de uma qualquer registadora ou a calibrar pneus, etc., etc. - é incluir aqui as suas tarefas e estamos conversados. Não é que uma pessoa não possa até apreciar o seu trabalho, por mais queixas que tenha de horas gastas, de dores nas costas ou nos salários. Neste caso em específico, o árduo é nos encherem os olhos com praias-paraíso, ilhas a que têm a lata de chamar "de sonho", águas azul-turquesa e quentinhas, areais perfeitinhos (ou menos perfeitinhos, que, sejamos realistas, o ano foi de tempestades violentas), hotéis de luxos zen, restaurantes apetitosos... ENFIM, estão a ver as cenas... 

Mas, numa tentativa altruísta de deixar aquela inveja da boa de lado, admitamos que há também um prazer (sensorial e literário, digamos) em ler a sonhar. E aí, caros amigos, confesso que é realmente um prazer, sem ter saído da maldita secretária, de ter andado a passear com a Sandra Nobre por Menorca, essa pérola balear tão desejada por tantos. Começa logo com aquela foto-postal na capa, que uma pessoa não é de ferro, e vai muito mais além do cliché de praias, para nos dar gastronomia, artesanatos, artes e gente, prosa e poesia - até porque a Sandra andou a passear com o escultor Eduardo Chillida na cabeça, em livro e em obras: "Os olhos para mirar/ os olhos para rir/ os olhos para chorar/ servirão também para ver?". Vale a pena e a pele ver esta Menorca e ouvir-lhe o seu silêncio. Ele há paradigmas nestas calas.

 
           
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          A convocatória que interessa para o Euro 2024

Depois dos 26 escolhidos por Roberto Martinez, chegam os 26 locais escolhidos pela makro para assistir aos jogos do Euro. E, para estes, estamos todos convocados.

         
           
 

Enquanto a ilha espanhola vai e vem, também podemos dar-nos ao luxo mais próximo e acessível de saborear o Alentejo (todo) à mesa do Páteo Real em Alter do Chão. A Mara Gonçalves foi descobrir com quantas artes, produtores locais e sabedorias se ergue um "restaurante tradicional alentejano do futuro". E que passa por maravilhas, tesouros como o açafrão-bastardo do mestre Xico ou os enchidos da dona Octávia, dois reais guardiães dos sabores de Portugal. É de ler e ficar de água na boca.

E o mesmo acontecerá a quem quiser conhecer a história, restaurante e cozinha de Diogo Novais Pereira, vencedor do concurso Chefe do Ano. O título é bom: Do restaurante dos pais a Chefe do Ano, ele sabe bem o que faz na cozinha do Porinhos (GPS: Arões, Fafe, Braga). Há uma frase do Diogo (33 anos) neste texto, escrito por Luís Octávio Costa, que me tem deixado a meditar toda a semana. Deixo-a ao vosso julgamento, só contextualizando que, como tantos, ele cresceu no negócios dos pais, depois foi-se e andou a estudar, a aprender, michelins, coisas modernas e antigas. E vai daí, um dia: "Vim a casa no Dia da Mãe dar uma mão e a minha mãe, a pegar numa assadeira, já não podia mais, doía-lhe os braços, os ombros, as pernas... Cheguei a Lisboa e disse que me ia embora. ‘Eles não podem continuar ali a matar-se sem ajuda.’" 

Das especialidades do dia, caro freguês, deixe-me ainda propor a limonada de Miguel Esteves Cardoso​, a Verona amorosa do nosso leitor José P. Costa ou um Mercedes que é uma besta. É juntar-lhe uns croquetes no rio Febras e uns pingos de 2000 anos do novo vinho mais antigo do mundo e temos festa.

Para a devida meditação, entre sonhos e realidades, e realçando que estou em período abstémio e só ando a beber água e textos sobre vinho, deixo-lhe uma última citação. É um provérbio à Pedro Garcias, mestre da verve crónicaA verdade está nas uvas; no vinho está tudo o resto.

Bom fim-de-semana e boas fugas!