Albuquerque convoca partidos e procura ganhar tempo à espera do Chega

Depois de retirar o programa do governo, que iria ser chumbado, o líder do PSD-Madeira vai abrir uma ronda negocial com os partidos já na próxima segunda-feira

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Miguel Albuquerque HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
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Perante a iminência da rejeição do programa de governo e com a pressão a aumentar para que Miguel Albuquerque fosse substituído, o presidente do Governo Regional da Madeira sacou de uma jogada inesperada: retirou o documento do parlamento, cuja votação estava prevista para esta quinta-feira, e anunciou a abertura de uma ronda negocial com os partidos.

A decisão permite a Albuquerque ganhar tempo enquanto espera pelo Chega, apesar de neste momento não estar garantido que o novo programa do governo, que terá de ser apresentado em 30 dias, venha a recolher o apoio do partido. Todas as forças com assento parlamentar já foram convidadas pelo executivo regional para uma reunião na próxima segunda-feira às 15h30.

Na quarta-feira, no anúncio da retirada do programa do governo, o social-democrata garantiu que vai “negociar com os partidos, sobretudo com aqueles que não se recusam a negociar”, declarações vistas como um piscar de olho ao Chega. Recorde-se que o PSD, com o apoio do CDS-PP, conta com 21 deputados, ficando a três da maioria absoluta. Só PS (11 deputados), JPP (nove) ou Chega (quatro) podem viabilizar o executivo.

Albuquerque já tinha procurado pressionar os partidos ao anunciar que o programa de governo que levou ao parlamento continha 293 medidas da oposição, sem, contudo, terem existido negociações concretas com outros partidos além do CDS-PP (com o qual foi assinado um acordo parlamentar). Agora, a abertura para negociar fez o Chega "cantar vitória”, mas o partido não deu garantias em relação ao futuro, até porque sempre personalizou a discussão em torno do líder do PSD-M.

“Miguel Albuquerque começou a ceder. Nós esperamos é que continue a ceder até conseguirmos aquilo que queremos, que é que ele se afaste”, afirmou o presidente do Chega-M, que tem vindo a exigir a saída de Albuquerque, arguido por suspeitas de corrupção, para viabilizar um governo do PSD. Ainda assim, Miguel Castro não rejeitou uma mudança de posição caso sejam incluídas propostas do partido no novo programa do governo: “Vamos ver, vamos sentir o que é que a população quer.”

O presidente do governo regional pode vir a aproveitar-se da posição dúbia do Chega, com as negociações a apresentarem-se como a derradeira oportunidade de se manter no poder. Aquando do anúncio, voltou a recusar sair de cena: “Não tem a ver com arrogância. Tem a ver com uma constatação. Eu submeti-me como líder do meu partido a candidato do presidente do governo e fui sufragado nas urnas”, atirou. Dentro do PSD, apesar de algumas vozes a defenderem o afastamento do líder – a começar por Alberto João Jardim -, a oposição interna tem-se mantido cautelosa e em silêncio.

Quem não poupou nas críticas ao PSD foi o PS, referindo o que disse ser uma “manobra de diversão para evitar uma humilhação”. Em declarações aos jornalistas já esta quinta-feira, o líder regional socialista, Paulo Cafôfo, acusou Albuquerque de querer “escapar” à justiça e exigiu explicações ao representante da República sobre a indigitação do social-democrata. “Miguel Albuquerque não se interessa pelo seu partido e não se interessa pela Madeira. Interessa-se só por si.” Na região que ficou cunhada pela estabilidade governativa durante décadas, domina agora a imprevisibilidade política.

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