Piscinas abertas, recordes batidos: EUA enfrentam a sua primeira grande vaga de calor de 2024

Regiões dos EUA menos habituadas ao calor enfrentam período prolongado de temperaturas extremas. Estados mobilizam-se para refrescar habitantes, abrindo piscinas e edifícios com ar condicionado.

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Pai e filhos refrescam-se no Memorial da II Guerra Mundial em Washington, capital dos Estados Unidos Craig Hudson / REUTERS
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Duas crianças nas piscinas do Yards Park, em Washington Craig Hudson / REUTERS
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Calor também do outro lado da fronteira, a Norte, no Canadá: as margens do rio São Lourenço são por estes dias tão concorridas como as praias oceânicas do vizinho do Sul GRAHAM HUGHES / EPA
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Mais de 80 milhões de norte-americanos estão a ser expostos à primeira grande vaga de calor no país em 2024, com vastas áreas do Midwest e do Nordeste, regiões menos habituadas a temperaturas elevadas, a superarem nesta quarta-feira os 36 graus Celsius de máxima, valor incomum para Junho. A sensação térmica está a ser intensificada pela elevada humidade, com fortes tempestades registadas desde os Grandes Lagos até à costa atlântica.

Illinois, Michigan, Indiana, Ohio, Pensilvânia, Nova Iorque, Vermont, New Hampshire, Massachusetts e Maine são os estados norte-americanos com temperaturas mais elevadas até, pelo menos, ao final desta semana. Nestes estados, o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NWS, na sigla em inglês) coloca várias áreas sob alerta magenta de calor, o nível mais elevado numa escala de cinco.

Na cidade de Nova Iorque, onde os termómetros deverão superar os 30ºC no resto da semana, as autoridades alertam para os riscos ocultos das temperaturas elevadas. “O calor extremo é o fenómeno meteorológico mais perigoso que temos em Nova Iorque. Perdemos mais de 350 nova-iorquinos por ano, em média, devido ao calor”, recordava Zach Iscol, responsável da protecção civil da cidade, numa conferência de imprensa na terça-feira.

Riscos acrescidos para a saúde

“Fiquem atentos ao boletim meteorológico, mantenham-se hidratados e adiem as actividades ao ar livre o máximo possível”, apelava a governadora do estado de Nova Iorque, Kathy Hochul. Idosos, crianças, mulheres grávidas e pessoas com doenças crónicas são os grupos de maior risco.

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Em Boston, as fontes dos jardins públicos oferecem o alívio possível Reuters

As primeiras vagas de calor do ano são as mais perigosas para a saúde humana, recorda o Washington Post, citando Jennifer Vanos, investigadora da Universidade Estadual do Arizona. Quando os corpos já estão habituados ao calor, estes tendem a reagir de forma mais célere através da sudação, da circulação sanguínea e da sensação de sede, desencadeando mecanismos de preservação. Quando os indivíduos ainda não estão habituados a temperaturas elevadas, a resposta do corpo é mais lenta, levando-os a subestimar o perigo do calor extremo.

Golpes de calor, desidratação, exaustão e problemas cardíacos são alguns dos riscos potencialmente fatais associados à exposição ao calor excessivo.

Para além dos riscos de saúde, as autoridades estão atentas aos efeitos indirectos da vaga de calor na rede eléctrica: o uso intensivo de aparelhos de ar condicionado, de ventoinhas e de outros mecanismos de arrefecimento estão a causar apagões em vários locais, um problema agravado pelos ventos e tempestades registados no Midwest e no Nordeste, que têm derrubado linhas de alta tensão.

Piscinas, bibliotecas e esquadras como refúgio

Outras cidades à mercê da canícula: Boston chegou nesta quarta-feira aos 36,6ºC, o seu 19 de Junho mais quente de sempre, temperatura que Filadélfia deverá superar nos próximos dias. Cleveland marcou 33,3ºC, Chicago e Detroit 32ºC. Ali, como no resto do Nordeste americano e nos Grandes Lagos, o desconforto será prolongado, com noites de mínimas elevadas e com as previsões meteorológicas para os próximos dias a não anteciparem um alívio significativo. De resto, ao longo da faixa atlântica, a expectativa é de que as temperaturas se mantenham bem acima dos valores médios até ao final do mês.

No estado do Vermont, mais conhecido pelas estâncias de ski, e onde as máximas médias de Junho não excedem os 25ºC, os termómetros chegaram nesta quarta-feira aos 36ºC e levaram as autoridades estaduais a abrir as portas de centenas de edifícios e espaços públicos com ar condicionado ou com acesso a água para os habitantes se refrescarem: não só piscinas e ringues de patinagem, mas também bibliotecas, esquadras de polícia e os próprios escritórios das autarquias e agências governamentais. É um cenário que se repete noutros estados, que estão a antecipar por alguns dias a reabertura de piscinas e praias habitualmente fechadas até ao início do Verão.

No New Hampshire, na estação meteorológica do Monte Washington, celebrizado na cultura popular norte-americana como o local com “o pior tempo do mundo” devido às temperaturas baixas e aos ventos inclementes (o local foi detentor, durante décadas, do recorde mundial da mais forte rajada: 372 km/h), admite-se que o respectivo recorde absoluto de calor possa cair esta semana. Expectativa semelhante tinham os meteorologistas da remota e reconhecidamente gélida cidade de Caribou, no vizinho Maine, extremo nordeste do país, onde na quarta-feira se registava 36ºC. Nestes dois estados, os avisos de calor extremo emitidos pelo NWS são inéditos.

A vaga de calor em curso nos Estados Unidos está associada a uma zona de alta pressão atmosférica que, segundo o NWS, está a actuar como uma espécie de tampa sobre uma panela, impedindo o calor de se dissipar. Ainda que o fenómeno não seja inédito, nem que a presente vaga de calor possa para já ser relacionada de forma directa e isolada com as alterações climáticas, a comunidade científica tem apontado que os eventos meteorológicos extremos têm aumentado de frequência e de intensidade nos últimos anos, em linha com o aumento da temperatura média global atribuído às emissões poluentes de gases com efeito de estufa.