Morreu a poetisa e dramaturga Maria Quintans

Criou as editoras Hariemuj, Cama de Gato e Edições Guilhotina. E escreveu o texto da peça Os Demónios Não Gostam de Ar Fresco, que se estreou em Abril no São Luiz, em Lisboa.

Foto
Maria Quintans Facebook de Maria Quintans
Ouça este artigo
00:00
02:32

A poetisa e dramaturga Maria Quintans morreu no sábado à noite no Hospital de São José, em Lisboa, onde se encontrava internada, confirmou este domingo à Lusa fonte próxima da família. O internamento, registado no dia 8, surgira na sequência de um aneurisma cerebral, disse a mesma fonte.

A autora nasceu em Lisboa em 1955. Esteve na criação da revista Inútil, de que foi directora editorial, e criou as editoras Hariemuj, Cama de Gato e Edições Guilhotina. Os seus livros de poesia incluem Apoplexia da Ideia, Chama-me Constança, O Silêncio, Febre e A Pata de Cabra. "Interventiva e entusiasta, recorda-se a sua notável voz poética, capaz de chegar a diferentes leitores", escreve numa nota de pesar o gabinete da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues.

Iniciou-se na escrita de dramaturgia em 2015, com o monólogo Décimo Terceiro Andamento. Escreveria Este Não Sou Eu, uma peça infanto-juvenil, no ano seguinte, bem como A Síndrome da Culpa​, em 2019. Vários poemas da autora estão incluídos em antologias e revistas portuguesas e brasileiras. Em 2019, editou pela Assírio & Alvim o livro de poemas Se Me Empurrares Eu Vou.

Os Demónios Não Gostam de Ar Fresco, texto para teatro editado pela Húmus, esteve em cena no São Luiz, em Lisboa, em Abril, num espectáculo dirigido por Albano Jerónimo e Cláudia Lucas Chéu. A peça pode ser definida como uma viagem ao imaginário de Ingmar Bergman, emblemático realizador e dramaturgo sueco, evocando obras e personagens do seu trabalho. "Depois de muitas visualizações dos seus filmes e pesquisa das suas questões sobre o mais profundo de nós, humanos, concluo que Bergman encontrou na literatura e nas artes cénicas uma forma de recriar e questionar a condição humana. Foi um obsessivo e perfeito investigador da alma humana e retirou do palco muito do material de que precisou para os seus 56 filmes", escreveu Maria Quintans em Junho de 2021, num texto que viria a integrar a folha de sala do espectáculo.

A portuguesa chegou a escrever a Liv Ullmann, com quem partilhou o texto. A actriz e antiga companheira de Bergman incentivá-la-ia a candidatar-se a uma residência artística no Bergman Center, na ilha sueca de Fårö, onde o cineasta viveu e trabalhou durante cerca de 40 anos. Quintans até foi seleccionada pelo júri, só que acabou por não seguir em frente. Acabaria por fazer uma visita à mítica casa do dramaturgo e cineasta na companhia da equipa artística que levou o texto à cena.

"No fundo, durante toda a peça, Bergman está a falar consigo próprio", dizia a escritora.