Onde estão os críticos de Teatro?

Uma crescente ausência de críticos de teatro em Portugal pode ter um impacto no panorama cultural do país?

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Megafone P3 Nelson Garrido
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Quando pensamos num crítico, a imagem que nos vem à cabeça não será a mais positiva. Talvez por causa da forma como são retratados nos media (lembremo-nos do crítico de comida no filme Ratatouille) imaginamos alguém difícil de impressionar, que se deleita em criticar negativamente e em fazer inimigos.

No entanto, o papel do crítico vai muito além desta caricatura. O crítico, no seu ideal, é alguém com profundo conhecimento da área que critica, capaz de fornecer um enquadramento e contextualização sobre diversos temas. Mas, enquanto no cinema e na música ainda encontramos uma presença significativa destes profissionais, no teatro observa-se um aparente desaparecimento.

Poderíamos pensar que a fraca adesão do público ao Teatro seria uma das causas. No inquérito mais recente sobre as práticas culturais dos portugueses, feito pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) e a Fundação Calouste Gulbenkian, apenas 13% das pessoas afirmaram que, em 2019, foram ao teatro. Se à primeira vista pode ser considerado pouco, visto que foram 260 espectadores num universo de 2000 inquiridos, é das actividades mais participadas, apenas atrás dos festivais e concertos.

Então, por que razão o crítico de teatro está em vias de extinção em Portugal? Uma explicação possível é a transformação do panorama mediático e a diminuição dos espaços dedicados à crítica de artes nos jornais e revistas. Os cortes nos custos e a redução de jornalistas nas redacções eliminam secções culturais ou reduzem significativamente o espaço dedicado a estas áreas.

Adicionalmente, o teatro é uma arte efémera e local. Ao contrário de um filme ou de um álbum de música, uma peça de teatro é vivida no momento e depende da presença física dos espectadores. Isto torna a crítica teatral mais difícil de nos relacionar visto que a obra em questão pode ter uma duração muito curta e ser inacessível ao público geral que não esteja geograficamente próximo. Este aspecto fugaz do Teatro é também uma das razões da importância desta crítica pois em muitos dos casos esta pode ser o único registo histórico de um espectáculo.

Deste modo é importante não subestimar o impacto deste desaparecimento. Os críticos desempenham um papel crucial na mediação entre a obra e o público, ajudando a decifrar, contextualizar e enriquecer a experiência teatral. É também um espaço importante de reflexão sobre as práticas teatrais actuais, ideias, tendências, e apresentá-las ao público. Com um maior envolvimento do grande público, a crítica pode também promover as artes, aumentando o número de espectadores.

Para reverter esta tendência, seria necessário um esforço conjunto das instituições culturais, dos meios de comunicação e das academias. Valorizar e incentivar a publicação de críticas teatrais e criar plataformas onde estas possam ser facilmente acessíveis ao público são passos fundamentais. E, por fim, desmistificar, por parte do público, a imagem do crítico e passá-lo a ver como mais um participante desta arte, e não um adversário. Afinal, todos gostam de Teatro.

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