Processo contra o realizador André Téchiné por assédio sexual foi arquivado
O Ministério Público de Paris considerou que os comportamentos imputados ao cineasta pelo actor Francis Renaud configuram uma “infracção”, mas estão legalmente prescritos.
O inquérito aberto contra o realizador francês André Téchiné na sequência de uma queixa do actor Francis Renaud, que o acusou de assédio sexual, foi arquivado pelo Ministério Público de Paris, noticiou a agência AFP, citando uma fonte próxima do processo. Ainda segundo a AFP, na informação enviada ao queixoso, o Ministério Público esclarece que “os factos revelados ou denunciados no processo constituem efectivamente uma infracção, mas foi ultrapassado o prazo fixado por lei para poderem ser julgados”.
Revelado em Pigalle (1994), de Karim Dridi, e conhecido como intérprete habitual dos filmes de Olivier Marchal, Francis Renaud, actualmente com 56 anos, apresentou no passado dia 22 de Fevereiro três queixas junto da Procuradoria da República de Evreux, na Normandia, onde habita: uma contra André Téchiné, por assédio sexual, outra contra o director de casting Gérard Moulévrier, por agressão sexual, e uma terceira contra pessoa não identificada, por ameaças de morte. No dia 1 de Março, publicou ainda um vídeo na rede social X, com a hashtag MeTooGarçons, reafirmando as acusações contra Téchiné e Moulévrier e anunciando que apresentara queixa contra ambos.
A acusação do actor contra o realizador de Os Juncos Silvestres (1994), que tem hoje 81 anos, é a de que Téchiné, num almoço entre ambos, lhe teria pegado numa mão, dizendo-lhe que este o "perturbava”. Renaud já agradeceu publicamente ao procurador de Evreux, Rémi Coutin, afirmando que a sua “decisão de abrir um inquérito, que poucos teriam tomado, é um sopro de esperança para todas as vítimas”.
O procurador, todavia, sublinhou que pedira aos serviços policiais a abertura de uma investigação sem indicar “uma qualificação penal precisa”, porque a sua audição do queixoso o convencera de que tinha de agir “com a maior prudência”, já que, ajuizou, o comportamento de que Renaud acusa Téchiné “não é susceptível de ser qualificado como assédio sexual”, as acções em causa não são descritas com “suficiente precisão” e todos os factos estão prescritos”.
No vídeo divulgado pelo actor, a referência a alguns filmes ajuda a situar o referido almoço provavelmente no início da década de 90, mas Renaud não adianta nem o local nem o ano. Téchiné, no entanto, já reconheceu implicitamente a veracidade do episódio. Num comunicado enviado à imprensa pela sua advogada, Julia Minkowski, o cineasta diz-se “desolado” por saber que o actor “se sentiu embaraçado pela [sua] abordagem sentimental desastrada durante esse almoço”, e acrescenta: “Fiz certamente mal, na época, em não ter percebido que, a seus olhos, a nossa relação não estava num plano de igualdade, dado o meu estatuto de realizador.” Mas conclui: “Por outro lado, só posso exprimir hoje a minha incompreensão perante a apresentação desta queixa penal.”
A advogada de Téchiné, que não terá chegado a ser ouvido no processo, não quis comentar a decisão. Já o advogado de Renaud, Mathieu Croizet, sem questionar a prescrição, afirmou-se “surpreendido pela relativa rapidez com que o Ministério Público de Paris arquivou o inquérito”.
Também o processo contra Gérard Moulévrier, que Renaud acusara, segundo o procurador Rémi Coutin, de lhe ter “acariciado o sexo através da roupa há 20 ou 25 anos”, foi arquivado por ter ultrapassado o prazo de prescrição. Uma decisão que “decorre da evidência”, diz a advogada do director de casting, Céline Bekerman, mas que ainda assim “foi recebida com grande alívio”.