No Japão é a inteligência artificial que controla saúde dos gatos — e as idas ao veterinário
App CatsMe! lê o rosto dos felinos e avisa o dono se o animal estiver com dores. Em 2023, o país registou 16 milhões de cães e gatos, valor superior ao total de crianças com menos de 15 anos.
Mayumi Kitakata preocupa-se com a saúde e o bem-estar de Chi, o companheiro felino de 14 anos que adora guloseimas e se deixa levar demasiado pelos efeitos da erva-gateira.
A mulher de 57 anos conta que teve vários gatos de estimação que vão e vêm ao longo do tempo e, para ajudar Chi a viver o maior número de anos possível, recorreu à inteligência artificial (IA).
Em Março, tornou-se uma das primeiras a recorrer à CatsMe!, uma aplicação para smartphone baseada em IA que sabe quando é que um gato está a sentir dor. Esta ferramenta reduz o trabalho de adivinhação dos tutores sobre se é ou não necessário fazer uma viagem stressante até ao veterinário.
"Ele está numa idade em que vão aparecer cada vez mais doenças", explica a dona, que é solteira e tem um filho adulto. "Por isso, poder contactar um veterinário e, ao mesmo tempo, reduzir o número de visitas ao hospital é muito importante para ele e para mim", completa.
Apesar de os animais de companhia serem uma parte integrante de muitas famílias em todo o mundo, têm um papel muito importante no Japão dado o envelhecimento da população e a queda da taxa de natalidade. Segundo a The Japan Pet Food Association, no ano passado, existiam quase 16 milhões de cães e gatos de companhia neste país, valor maior do que o número de crianças com menos de 15 anos.
A startup Carelogy e os investigadores da Universidade de Nihon, a maior instituição de ensino superior do Japão, foram os responsáveis por desenvolver a app CatsMe! e treinaram-na com seis mil fotografias de gatos. A aplicação foi utilizada por mais de 230 mil utilizadores desde 2023, ano em que foi lançada. Os criadores defendem que o grau de exactidão é superior a 95% e esperam que esse grau melhore à medida que a IA for treinada com mais rostos de felinos.
Kazuya Edamura, professor da Universidade de Nihon, acrescenta que os veterinários, como é o seu caso, podem dizer, até certo ponto, se um animal está com dores ou não, mas é uma tarefa mais difícil para os donos.
"As nossas estatísticas mostram que mais de 70% dos gatos idosos têm artrite ou dores, mas apenas 2% vão a um hospital veterinário. Por isso, em vez de um diagnóstico final, usamos (a aplicação) como uma ferramenta para sensibilizar os donos para o facto de a situação ser normal ou não", afirma.
Mayumi e Chi vivem num apartamento no centro de Tóquio que tem o local perfeito para a sesta do felino: uma janela com vista para as cerejeiras cinco andares abaixo. A dona monitoriza a frequência com que o gato faz necessidades e utiliza a aplicação para ler o rosto do animal todos os dias.
A mulher de 57 anos revela que tem gatos desde os 20. Soran, que tinha o pêlo castanho às riscas morreu de cancro há cerca de seis anos. Tinha apenas oito anos.
"Se eu tivesse percebido, talvez pudéssemos ter feito um tratamento contra o cancro mais cedo ou algo do género e isso teria ajudado, mas nem o veterinário sabia", recorda a dona com lágrimas nos olhos. "Talvez o tivesse conseguido salvar."