O humano é o animal mais exótico

Para ver pombos e comer cornettos de morango poderíamos ter ido até ao Rossio, e eu escusava de sentir tanta pena dos bichos.

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"Lembro-me de apontar para os macacos pendurados nos galhos, e para as girafas, e de elas não ligarem nenhuma" Toby Melville/Reuters
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As minhas filhas foram ao Jardim Zoológico com a escola. Tenho sentimentos ambivalentes em relação ao Jardim Zoológico. Confesso que neste momento não sou capaz de lá ir, mas ao mesmo tempo queria conversar com elas e saber como tinha sido a experiência de verem ao vivo todos aqueles animais dos livros e dos desenhos animados.

A memória do quanto me impactou a primeira ida ao Zoo ficou comigo. Tenho fotografias desse dia, era talvez muito nova para me lembrar, mas as fotografias ajudam neste processo. Muitos são os acontecimentos que não sei se recordo, ou se vi demasiadas vezes em fotografias. Tenho a imagem do teleférico, da arara ao ombro e das cavalitas para conseguir ver os gorilas.

Levei as minhas filhas ao Jardim Zoológico uma vez, há uns anos, quando também ainda eram muito pequenas para se recordarem, e admito que fiquei um pouco deprimida com aqueles leões semi-adormecidos e de jubas meio calvas no centro de Sete Rios. Nem sequer obtive o consolo de vê-las a alegrarem-se com a experiência, uma vez que o ponto alto da visita, para elas, foram os pombos. Os únicos animais que não estavam enjaulados e que elas passaram a tarde a perseguir de forma entusiástica. Lembro-me de apontar para os macacos pendurados nos galhos, e para as girafas, e de elas não ligarem nenhuma. Ora, para ver pombos e comer cornettos de morango poderíamos ter ido até ao Rossio, e eu escusava de sentir tanta pena dos bichos.

Mas agora, em excursão escolar, regressaram. Pude ilibar-me, em parte, da culpa, e tentar sentir, na terceira pessoa, o entusiasmo. Ansiosa por um relato animado, perguntei como tinha sido o dia e o que é que tinham visto no Jardim Zoológico, ao que a minha filha mais nova me respondeu, visivelmente impressionada: “Eu vi uma senhora a mergulhar de sapatos.”

Referia-se aos mergulhadores que acompanham os golfinhos. Os golfinhos faziam piruetas infinitas e saltos acrobáticos. Mas estes animais, na cabeça delas, são seres mágicos, capazes de tudo. Quem já viu Madagáscar, Rei Leão, Robin dos Bosques (aquele em que o Robin é uma raposa), Bluey ou À procura de Nemo, espera tudo dos animais. O surpreendente é ver um humano e, ainda mais, um adulto, a fazer algo tão inesperado quanto mergulhar de sapatos.

O humano ainda é o animal mais exótico de todos.

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