Uma filial italiana do gigante francês do luxo LVMH, que fabrica as carteiras da marca Dior, foi colocada sob administração judicial, nesta segunda-feira, depois de uma investigação ter descoberto que tinha subcontratado trabalho a empresas chinesas que maltratavam os trabalhadores.
Esta é a terceira decisão deste tipo tomada este ano pelo tribunal de Milão responsável pelas medidas preventivas, que, em Abril, nomeou um comissário para gerir uma empresa detida por Giorgio Armani devido a acusações de que o grupo de moda estava a “falhar culposamente” na supervisão adequada dos seus fornecedores. O Grupo Armani afirmou na altura que sempre procurou “minimizar os abusos na cadeia de abastecimento”.
O tribunal disse, numa cópia da decisão de segunda-feira a que a Reuters teve acesso, que os procuradores alegaram que a violação das regras não era um caso isolado entre as empresas de moda com capacidade de produção em Itália, mas sistemática devido à necessidade de obter lucros mais elevados.
“Não se trata de algo esporádico, que diga respeito a lotes de produção isolados, mas de um método de fabrico generalizado e consolidado”, refere o documento.
Nos últimos anos, a cadeia de abastecimento da indústria do luxo tem sido objecto de um maior escrutínio por parte dos consumidores e dos investidores. Para reduzir os riscos de reputação, as marcas de moda reduziram o número de subcontratantes e internalizaram a produção, num golpe para a indústria italiana de artigos de couro, que está maioritariamente sediada na Toscana e inclui muitas empresas fundadas por imigrantes chineses.
A Itália alberga milhares de pequenos fabricantes que cobrem 50% a 55% da produção mundial de artigos de luxo, calculou a consultora Bain.
O tribunal de Milão ordenou que a Manufactures Dior SRL, detida na totalidade pela Christian Dior Italia SRL, fosse colocada sob administração judicial durante um ano, segundo o documento visto pela Reuters.
A empresa continuará a funcionar durante este período.
A investigação da Dior centrou-se em quatro fornecedores que empregavam 32 funcionários que trabalhavam nos arredores de Milão, dois dos quais eram imigrantes ilegais no país, enquanto sete outros trabalhavam sem a documentação necessária.
Entre Março e Abril, a polícia italiana efectuou inspecções nos fornecedores, denominados Pelletteria Elisabetta Yang SRL, New Leather Italy SRLS, AZ Operations SRLS, Albertario Milano SRL, refere o documento.
Segundo o documento, a Pelletteria Elisabetta Yang e a Albertario Milano eram fornecedores directos da Manufactures Dior SRL.
O pessoal vivia e trabalhava “em condições de higiene e saúde abaixo do mínimo exigido por uma abordagem ética”, acrescentou.
Os representantes da LVMH não fizeram comentários imediatos. As acções da LVMH aumentaram as perdas anteriores com a notícia da decisão do tribunal, atingindo o mínimo da sessão. Fecharam em baixa de 2,2%.
Delphine Arnault, cuja família controla uma participação de 42% na LVMH, é presidente e directora executiva da Dior, a segunda maior marca de moda da LVMH. É a filha mais velha de Bernard Arnault, que dirige o império LVMH e está entre as pessoas mais ricas do mundo.
“24 horas por dia”
No acórdão de 34 páginas, os juízes afirmam que os trabalhadores eram obrigados a dormir no local de trabalho para haver “mão-de-obra disponível 24 horas por dia”.
Os dados relativos ao consumo de electricidade revelam “ciclos de produção dia-noite sem interrupções, incluindo durante as férias”.
Além disso, foram retirados os dispositivos de segurança das máquinas para que estas pudessem funcionar mais rapidamente, segundo o documento.
Isto permitiu que os empreiteiros controlassem os custos e cobrassem à Dior apenas 53 euros pelo fornecimento de uma carteira de mão, diz o documento, citando como exemplo um modelo Dior com o código PO312YKY, que a casa de moda vendeu nas lojas a 2600 euros.
A unidade Dior não adoptou “medidas adequadas para verificar as condições reais de trabalho ou as capacidades técnicas das empresas contratantes”, não tendo efectuado auditorias periódicas aos seus fornecedores ao longo dos anos, acrescentou.
Os proprietários das empresas contratantes e subcontratantes estão a ser investigados pelo Ministério Público de Milão por explorarem trabalhadores e empregarem pessoas sem documentos. A Dior não enfrenta qualquer investigação criminal.
A investigação da Armani também revelou que os fornecedores da marca italiana incluíam fabricantes chineses em Itália que violavam as leis de protecção dos trabalhadores.