Esta língua que nos une

Num contexto de constante evolução tecnológica e cultural, a língua portuguesa é o elo de 260 milhões de pessoas. O português transcende a função básica de meio de comunicação.

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Megafone P3: Esta língua que nos une Nuno Ferreira Santos
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O maravilhoso da espécie humana é que se fez a si mesma, inventou tudo. (José Saramago)

Num contexto de constante evolução tecnológica e cultural, a língua portuguesa é o elo de 260 milhões de pessoas. O português transcende a função básica de meio de comunicação. É elemento de identidade.

A singularidade do português provém de uma miríade de influências. Com origens no latim, sobre uma matriz celtibera grandemente apagada, este falar absorveu elementos de origens diversas ao longo dos séculos. Palavras como "saudade" e "manjerico" são exemplos de termos que transportam consigo não apenas significados, mas também narrativas e emoções enraizadas na cultura portuguesa.

Quanto à sua complexidade, esta é evidente tanto na ortografia como na gramática. Os desafios que apresenta, desde as regras de colocação pronominal até aos diversos tempos verbais, revelam a sua riqueza temporal e cultural. A língua é um reflexo da cultura que simultaneamente a molda e expressa.

As discussões em torno do Acordo Ortográfico, que visou padronizar a escrita do português entre os países de língua oficial portuguesa, mostram o quão profundas são as convicções ligadas a esta temática. Em Portugal, a (constante) resistência a algumas das mudanças propostas evidencia o forte vínculo emocional (não apenas emocional, há também muitos argumentos etimológicos e de consistência ortográfica) que os portugueses têm com a sua variante linguística. Mas a língua evolui, adapta-se e mantém um núcleo essencial resistente ao tempo.

No dia-a-dia, o português é falado nas ruas, recitado nos palcos, debatido em cafés e ensinado nas escolas. As novas gerações enriquecem o idioma com termos que reflectem realidades emergentes, influenciadas também pela tecnologia digital, que introduziu palavras como selfie, tablet, hashtag no léxico contemporâneo.

A língua é igualmente um denominador primordial na literatura e nas artes. Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner e José Saramago usaram o português para explorar e expressar as nuances da experiência humana, enriquecendo a literatura mundial, além da continuidade da nossa identidade e tradição cultural.

Mais do que um conjunto de regras e vocabulário, o português é um espelho, revela as dinâmicas e a essência de um povo, a ligação entre pessoas de diferentes eras e culturas. Num mundo onde as divergências geram divisão, a língua afirma-se como um símbolo de união.

Essa vitalidade é visível no cinema, na música e nas artes visuais, enquanto passaporte para novas expressões artísticas e diálogos criativos: recordemos Ice Merchants, o primeiro filme português nomeado para o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação. Toda a tela, frase ou verso capturam a alma, a herança linguística, uma tatuagem no amanhã.

Os festivais literários e os eventos culturais que celebram a língua portuguesa, tanto em território nacional como no estrangeiro, reforçam a sua posição no mundo (apesar de em certos circuitos sermos considerados uma "língua exótica"…). Estes encontros não só incentivam a diversidade linguística, mas também propiciam a troca de ideias que enriquece e fortalece as conexões entre os falantes da lusofonia.

O português não é apenas um vector de diálogo; é o laço que nos conecta ao passado, estimula o presente e guia o futuro. É o músculo pulsante de uma comunidade que, apesar da dispersão geográfica, encontra, assim, um ponto de união. Celebrar o português é lembrar a riqueza de um legado vivo que continua a florescer, alimentado por cada conversa, cada poema, livro ou canção.

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