Depois da descida dos juros, Lagarde admite “manter o pé no travão”

O caminho até à “normalização” da inflação na zona euro é longo e “não será assim tão fácil”, avisa a presidente do BCE num artigo de opinião.

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O BCE, liderado por Christine Lagarde, baixou as três taxas de juro de referência na reunião deste mês Wolfgang Rattay / REUTERS
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A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, continua a guardar as cartas viradas para baixo da mesa sobre o que fará a autoridade monetária da zona euro nas reuniões de Julho e Setembro, embora insista que o banco central, depois da descida das três taxas de juro de referência em 0,25 pontos percentuais, manterá os custos do financiamento num nível suficientemente restritivo enquanto for necessário.

Num texto de opinião escrito já posteriormente à conferência de imprensa da última quinta-feira, Lagarde faz uma analogia entre a direcção da política monetária e o cuidado que é preciso ter durante a condução de um veículo na estrada, afirmando: [No caso da primeira, o BCE ainda terá de] manter o pé no travão durante algum tempo, mesmo que não estejamos a pisá-lo com tanta força como antes.”

Neste artigo — publicado no PÚBLICO e noutros meios de comunicação de outros países da zona euro —, Lagarde avisa que “ainda há um longo caminho a percorrer até à normalização da inflação na economia” e admite que “não será assim tão fácil” chegar ao ponto da estabilização.

“É necessário vigilância, empenho e perseverança”, escreve a presidente do banco central, instituição que está a prever que, no conjunto das 20 economias que partilham o euro, a inflação ainda continue “acima” do objectivo de 2% “durante grande parte do próximo ano”. A previsão é a de que haja uma variação de 2,5% este ano, de 2,2% no próximo (só se verificando uma taxa de inflação de 2% na segunda metade do ano) e de 1,9% apenas em 2026.

A inflação subjacente (que exclui bens alimentares e energéticos) deverá ser de 2,8% em 2024, de 2,2% em 2025 e de 2% em 2026.

É neste cenário que Lagarde admite que a “luta” ainda “não terminou” e que as taxas de juro “terão” de “permanecer restritivas enquanto for necessário para assegurar a estabilidade de preços numa base duradoura”. O que quer isso dizer, afinal? É aí, ao querer explicar “por outras palavras” o sentido dessa afirmação, que Christine Lagarde afirma que o BCE entende ser preciso “manter o pé no travão durante algum tempo”.

“As nossas futuras decisões de política monetária dependerão de três factores: continuarmos a ver que a inflação está a evoluir no sentido de um regresso atempado ao nosso objectivo, observarmos um abrandamento geral das pressões sobre os preços na economia e constatarmos que a nossa política monetária continua a ser eficaz no controlo da inflação. Estes factores determinarão quando poderemos levantar mais o pé do travão”, escreve a líder máxima da instituição.

Antes da descida agora confirmada, com efeitos a partir de 12 de Junho, as taxas estiveram iguais durante nove meses (de Setembro de 2023 para cá), ficando num nível historicamente elevado que resultou de uma fase de sucessivas subidas mensais a partir de Setembro de 2022.

Essa altura intermédia em que as taxas ficaram constantes, diz Lagarde, foi a “fase de espera”. [Aí,] nem pisámos o travão com mais força, nem aliviámos a pressão”, diz, falando do papel do BCE. “Embora confiássemos que as taxas de juro estavam a reduzir a inflação, esta ainda era demasiado elevada para nos sentirmos à vontade. Neste enquadramento, teria sido contraproducente começar a baixar as taxas de juro demasiado cedo.”

Como entretanto houve “progressos em muitas frentes”, com a inflação a ficar em Maio nos 2,6% (já esteve mais baixa, em 2,4% em Abril), o BCE decidiu-se por um alívio que vem “moderar o nível de restritividade da política monetária” na área do euro. A questão é que, entende o banco central, será necessário manter algum nível de restritividade e ir avaliando quando se levanta o tal “pé do travão”.

Significa que o BCE continuará a descer as taxas de juro imediatamente, em Julho? Que fará uma pausa em Julho e regressa às descidas mais à frente no resto do ano, em Setembro ou num dos meses seguintes? Que faz uma pausa durante alguns meses sem avançar, de todo, com novas descidas nos próximos meses? Para a resposta a essas perguntas, o texto de Lagarde mantém tudo em aberto. O mesmo aconteceu na quinta-feira, durante a conferência de imprensa, em que a presidente do BCE lembrou que o banco decidirá “reunião a reunião”, com base nos dados económicos do momento.

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