Israel organizou e financiou operação para influenciar congressistas dos EUA

A campanha foi levada a cabo por uma empresa de marketing político e assentou na criação de contas falsas nas redes sociais e na partilha de desinformação.

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Governo de Netanyahu financiou operação de influência junto de políticos norte-americanos GIL COHEN-MAGEN / VIA REUTERS
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O Governo israelita financiou uma operação de manipulação da opinião pública e de influência política nos EUA para criar uma imagem positiva da ofensiva israelita na Faixa de Gaza, ao mesmo tempo que espalhava mensagens islamofóbicas.

A acção israelita – iniciada logo nas primeiras semanas de Outubro, a seguir ao ataque do Hamas contra Israel – visou sobretudo influenciar as opiniões de um grupo de congressistas, sobretudo negros e democratas, relativamente ao apoio de Washington a Israel. O Governo israelita, por via do Ministério dos Assuntos da Diáspora, pagou cerca de dois milhões de dólares (1,8 milhões de euros) pela operação que foi posta em prática pela Stoic, uma empresa israelita especializada em marketing político, de acordo com uma investigação publicada nesta quarta-feira pelo New York Times.

Foram criadas centenas de contas falsas nas plataformas das redes sociais X, Instagram e Facebook, que publicavam mensagens de apoio a Israel ou de cariz islamofóbico, frequentemente veiculando informações falsas. As mensagens foram geradas pelo ChatGPT e, além das publicações nas redes sociais, também foram criados de raiz sites aparentemente noticiosos onde eram publicados conteúdos favoráveis a Israel. Estes artigos eram, por sua vez, partilhados pelas contas falsas.

Os pormenores sobre o esquema de influência política foram revelados pela primeira vez em Março pelo diário israelita Haaretz e pela FakeReporter, um site israelita especializado em desinformação, mas só agora foi confirmado o papel do Governo de Benjamin Netanyahu na orquestração e financiamento da operação.

A campanha foi direccionada para um grupo de congressistas, sobretudo negros e pertencentes ao Partido Democrata, entre os quais o líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries, e o senador Raphael Warnock, com o objectivo de os pressionarem a apoiar as propostas de assistência militar a Israel.

O Ministério dos Assuntos da Diáspora de Israel rejeitou as alegações e negou ter qualquer ligação à Stoic, enquanto a empresa não respondeu aos pedidos de comentário do jornal norte-americano.

Aparentemente, a campanha de influência israelita teve um impacto limitado, de acordo com a avaliação interna da Meta e da OpenAI, que contabilizam pouco mais de 40 mil seguidores das contas falsas nas três plataformas, muitos dos quais podem ser bots.

O Haaretz detalha como as autoridades israelitas tentaram, durante as primeiras semanas após o ataque do Hamas, e da guerra que se seguiu em Gaza, contrariar a maior circulação de mensagens pró-palestinianas nas redes sociais. Outras operações de influência da opinião pública podem estar em curso actualmente, escreve o jornal.

No entanto, a particularidade de a operação divulgada nesta quarta-feira ter como um dos objectivos principais visar congressistas norte-americanos torna-a mais problemática.

“O papel de Israel nisto é insensato e provavelmente ineficaz”, disse ao NYT a directora executiva do FakeReporter, Achiya Schatz, acrescentando que “dirigir uma operação que interfere com a política dos EUA é extremamente irresponsável”.

Não é certo qual será o impacto da divulgação desta campanha, sobretudo num contexto de crescente impaciência da Casa Branca com a continuação da ofensiva israelita em Gaza. O apoio de Washington ao esforço de guerra israelita está já a causar dificuldades ao Presidente Joe Biden, sobretudo junto do eleitorado mais progressista que há meses se tem manifestado a favor de um cessar-fogo.

Numa entrevista à revista Time publicada nesta terça-feira, Biden disse que “há todas as razões” para se acreditar que a guerra em Gaza está a ser prolongada para que Netanyahu assegure a sua sobrevivência política.

As declarações do Presidente norte-americano foram criticadas pelas autoridades israelitas, que as consideraram “fora das normas diplomáticas”.

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