Dia de violência em Jerusalém, com colonos a entrar no Pátio das Mesquitas

“Mandamos uma mensagem ao Hamas. Jerusalém é nossa”, disse o ministro extremista Ben-Gvir. “O Monte do Templo é nosso.” Centenas de colonos entraram no complexo onde está a mesquita de Al-Aqsa.

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Activistas israelitas com bandeiras em frente à Porta de Damasco, em Jerusalém ATEF SAFADI / EPA
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Durante a marcha em Jerusalém ouviram-se gritos de "morte aos árabes" ATEF SAFADI / EPA
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O ministro extremista Itamar Ben-Gvir à chegada à marcha ATEF SAFADI / EPA
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Palestiniano recebe uma flor de activistas pela paz antes de fechar a sua loja na parte muçulmana da Cidade Velha ABIR SULTAN / EPA
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A violência começou mesmo antes do início da marcha. Um grupo de extremistas atacou jornalistas na Cidade Velha ATEF SAFADI / EPA
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Um dia que costuma já ser explosivo foi esta quarta-feira marcado por maior violência: trata-se do dia de Jerusalém, quando é comemorada a ocupação de Jerusalém Leste por Israel na sequência da guerra dos Seis Dias em 1967.

“Que as vossas aldeias ardam”, gritaram alguns dos participantes nas comemorações, ou ainda "morte aos árabes". Um grupo atacou alguns jornalistas, na parte muçulmana da Cidade Velha, ainda antes da marcha propriamente dita. Um jornalista do Haaretz, Nir Hasson, foi agredido ao tentar proteger outro jornalista.

Além de extremistas e jornalistas, estiveram ainda presentes elementos de um grupo de defesa de uma sociedade partilhada, Standing Together, para documentar potenciais abusos.

O dia costuma ser marcado pela presença em toda a cidade de jovens, muitos religiosos, a comemorar a “reunificação” de Jerusalém – cuja parte oriental os palestinianos querem para capital do seu Estado, e é considerada território ocupado – e uma marcha das bandeiras.

A passagem da marcha pela zona muçulmana da Cidade Velha causa muitas vezes problemas e foi um dos factores para a violência na Faixa de Gaza e Israel em 2021, em que além de ataques do Hamas e de Israel houve ainda motins dos palestinianos cidadãos de Israel (ou árabes israelitas) nas chamadas cidades mistas, em que há uma minoria palestiniana/árabe significativa, e ainda ataques de judeus contra eles.

O ministro da Segurança Nacional, o extremista Itamar Ben-Gvir, declarou, durante a marcha: “Mandamos uma mensagem ao Hamas. Jerusalém é nossa. A porta de Damasco [que dá acesso à zona muçulmana na zona entre muralhas da Cidade Velha] é nossa. O Monte do Templo [o complexo onde está a mesquita de Al-Aqsa] é nosso.”

Ainda antes da marcha desta quarta-feira, centenas de colonos (500 segundo o site The New Arab, que citava media locais) entraram, sob protecção da polícia israelita, no complexo onde está a mesquita de Al-Aqsa, levando a cabo rituais talmúdicos (a entrada de não muçulmanos no local está reservada e não são permitidos comportamentos abertamente religiosos).

A activista e advogada de defesa de direitos humanos Sapir Sluzker Amran comentou à Al Jazeera que a marcha “é sempre provocatória” mas que neste ano “há uma intenção directa de incendiar”.

Sapir Sluzker Amran disse que há uma tentativa por parte destes elementos radicais para “usar violência contra os palestinianos para escalar a situação para que haja uma desculpa para continuar a guerra” quando há um acordo de cessar-fogo e para libertar reféns em cima da mesa. A ida a Al-Aqsa, que não faz parte da rota da marcha, faz parte disso, disse ainda à estação de televisão – que viu esta quarta-feira uma decisão de um tribunal passar para 35 (em vez de 45) os dias da suspensão de emitir em Israel.

O que se passa perto da mesquita de Al-Aqsa ou na mesquita é especialmente sensível para os muçulmanos, palestinianos e não só.

O Hamas deu ao seu ataque de 7 de Outubro um nome relacionado com Al-Aqsa, cuja cúpula aparecia pintada em murais na Faixa de Gaza, e cujo nome é também invocado por movimentos como o xiita libanês Hezbollah, que tem levado a cabo ataques contra o Norte de Israel em solidariedade com o Hamas (se bem que não tão decisivos como o Hamas teria talvez esperado).

O dia foi ainda marcado por um ataque do Hezbollah no Norte de Israel com drones, que atingiu a localidade de Hurfeish, sem fazer disparar o sistema de alarme, e deixando dez pessoas feridas, incluindo uma em estado crítico.

O conflito no Norte de Israel e Sul do Líbano deixou já cerca de 300 combatentes do Hezbollah e 80 civis mortos no Líbano, e 18 soldados israelitas e dez civis em Israel.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse estar preparado para uma acção “muito forte” que fizesse voltar a segurança ao Norte “de uma maneira ou de outra”, enquanto o chefe do Estado-Maior do Exército Herzi Halevi declarou que o país estava a aproximar-se de uma decisão quando a uma ofensiva na fronteira norte.

Notícia corrigida às 23h15, corrigido o ano da Guerra dos Seis Dias, que decorreu em 1967 (e não 1976)

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