China acusa diplomatas que lembraram Tiananmen em Hong Kong de “provocações” e “intenções maliciosas”

Gabinete de Pequim na região administrativa não gostou de ver membros das delegações europeias visitarem o local onde já não é permitido fazer vigílias em memória das vítimas do massacre de 1989.

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Diplomatas europeus passearam no Victoria Park na terça-feira à noite LEUNG MAN HEI / EPA
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A representação do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China na região administrativa especial de Hong Kong (OCMFA, na sigla em inglês) criticou duramente os representantes das delegações diplomáticas da União Europeia, dos Estados Unidos e de outros países ocidentais, por causa dos gestos de homenagem, mais ou menos velados, que estes dedicaram às vítimas do massacre de 1989 na Praça Tiananmen, na terça-feira, dia em que se cumpriram 35 anos de uma tragédia que não é reconhecida por Pequim.

Segundo o OCMFA, que acusa os diplomatas ocidentais de fazerem “provocações” e de levarem a cabo “fracos teatros políticos”, as suas “intenções maliciosas para desestabilizar Hong Kong e conter a China foram claramente expostas”.

Os consulados no território semiautónomo chinês de países como os EUA, o Reino Unido, o Canadá ou a Austrália publicaram mensagens nas respectivas redes sociais a relembrar a data e as delegações norte-americana e da UE, entre outras, acenderam velas nas janelas dos seus edifícios, em memória das vítimas.

Além disso, alguns diplomatas passearam mesmo pelo Victoria Park, um dos poucos locais do território chinês onde, durante quase trinta anos, se organizaram grandes vigílias no aniversário do massacre, que são hoje proibidas pelas autoridades.

Matthias Kaufmann, vice-líder da representação da UE em Hong Kong, Stefan Bredohl, cônsul da Alemanha, e Arjen van den Berg, cônsul dos Países Baixos, foram fotografados no Victoria Park, por volta das 19h30, no local onde tradicionalmente se realizavam as vigílias, com velas.

Na terça-feira, tal como nos três anos anteriores, foi montado um forte dispositivo de segurança naquela zona da cidade, onde se realiza agora anualmente um mercado de comida organizado por grupos pró-Pequim.

De acordo com o South China Morning Post, que diz que os diplomatas David Lomastro (Bélgica), Christile Drulhe (França) e Kenichi Okada (Japão) também foram vistos no mesmo local, nenhum dos representantes diplomáticos falou com os jornalistas ou fez qualquer tipo de declaração. Limitaram-se a passear pelo Victoria Park.

“Alguns funcionários de consulados estrangeiros em Hong Kong, ignorando a ética consular básica e os códigos de conduta, estão a encenar dramas políticos, utilizando o pretexto dos ‘direitos humanos’ e o velho truque da infiltração ideológica e da evolução pacífica”, acusou o OCMFA, num seu comunicado, divulgado na terça-feira à noite.

O massacre dos manifestantes em Pequim, em 1989, é alvo de uma forte censura por parte do Estado chinês. O Partido Comunista rejeita as acusações de que o Exército matou dezenas de milhares de pessoas que participavam num protesto estudantil, exigindo reformas democráticas ao regime.

A imposição por Pequim da controversa Lei de Segurança Nacional em Hong Kong, em 2020, tipificando e definindo penas pesadas para os crimes de secessão, terrorismo, subversão e conspiração com forças estrangeiras, estabeleceu os alicerces jurídicos que hoje sustentam a proibição da realização de vigílias em Hong Kong, depois de a pandemia de covid-19 ter sido o pretexto para as primeiras suspensões do evento.

O Governo de Hong Kong, que reforçou recentemente aquela lei com legislação própria, também divulgou um comunicado na terça-feira, lembrando que as autoridades do território – que em 1997 regressou à soberania chinesa, mas com um estatuto de semiautonomia, que os países ocidentais dizem que está a ser violado pela China – podem restringir os direitos e liberdades dos seus habitantes, “se alguém violar a lei” e em nome da “protecção da segurança nacional e da ordem pública”.

Um artista local foi detido na terça-feira por ter feito gestos com as mãos que indicavam a data do massacre de Tiananmen, a 4 de Junho de 1989, num local público da cidade.

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