Corredora japonesa congela os seus óvulos para manter vivo o sonho da maternidade

O número médio de filhos nascidos de uma mulher japonesa caiu para um novo mínimo de 1,20 em 2023, revelaram dados do Ministério da Saúde do país.

Tomomi Bitoh a treinar jundo ao Palácio Imperial, em Tóquio, Japão
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Tomomi Bitoh a treinar jundo ao Palácio Imperial, em Tóquio, Japão Issei Kato/Reuters
Tomomi Bitoh, 33, Japan's top ultra runner, stretches as she takes part in a workout session around the Imperial Palace in Tokyo, Japan June 4, 2024. REUTERS/Issei Kato
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Tomomi Bitoh tem 33 anos e é ultra maratonista Issei Kato/reuters
Tomomi Bitoh, 33, Japan's top ultra runner, takes part in a workout session around the Imperial Palace in Tokyo, Japan June 4, 2024. REUTERS/Issei Kato
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A atleta japonesa decidiu congelar os óvulos para ser mãe depois de completar a carreita desportiva Issei Kato/Reuters
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A corredora japonesa Tomomi Bitoh completou uma corrida de 170 quilómetros nos Himalaias em Novembro e foi imediatamente para uma clínica em Tóquio para começar a congelar os seus óvulos, na esperança de manter vivo o seu sonho de ser mãe.

Aos 33 anos, a antiga educadora de infância e actual campeã faz parte de um número crescente de mulheres japonesas que estão a aderir a uma tendência que as autoridades da sociedade mais envelhecida do mundo esperam que venha a travar o declínio da taxa de natalidade.

"Tenho o grande sonho de me tornar a número um do mundo", declara Bitoh, que ficou em segundo lugar entre as mulheres na Marathon des Sables de 2021, considerada uma das corridas de longa distância mais difíceis do mundo. "Não creio que seja algo que possa fazer daqui a dez ou 20 anos, depois de ter um filho. É agora ou nunca", justifica.

O número médio de filhos nascidos de uma mulher japonesa caiu para um novo mínimo de 1,20 em 2023, revelaram dados do Ministério da Saúde nesta quarta-feira. Este número marca o oitavo ano consecutivo de declínio e está muito abaixo dos 2,07 que os peritos consideram necessários para manter uma população estável.

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Tomomi Bitoh a treinar junto ao Palácio Imperial, em Tóquio Issei Kato/Reuters

O Japão diz que os seus problemas demográficos são uma "emergência nacional silenciosa" que asfixia o crescimento e coloca uma grande pressão sobre o seu sistema de segurança social.

Segundo dados governamentais, em 2023, pela primeira vez, a taxa de natalidade de Tóquio desceu abaixo de um. "Está a tornar-se difícil para os jovens terem perspectivas brilhantes", resumiram os responsáveis municipais num comunicado. "Este poderá ser um dos factores subjacentes ao declínio da natalidade", acrescentaram, apelando ao governo central para que encontre soluções.

O governo, que afirma que a dificuldade em equilibrar a carreira profissional e a educação dos filhos é um dos principais factores de dissuasão para os jovens terem filhos, afectou milhares de milhões de euros a esforços que espera venham a inverter a tendência. No ano passado, as autoridades começaram a oferecer subsídios até 1800 euros a mulheres, entre os 18 e os 39 anos, para congelarem os seus óvulos para futuras gravidezes.

Mas, até à data, os sinais não são encorajadores. Cerca de 55% dos homens e mulheres solteiros entre os 20 e os 30 anos não desejam ter filhos, revelou em Dezembro uma sondagem anual da Rohto Pharmaceutical.

Bitoh apela a um maior apoio público às famílias que estão a educar os filhos, bem como a um afastamento das visões tradicionais que sobrecarregam as mulheres com o trabalho doméstico.

"Custa muito dinheiro educar os filhos", diz. "E os homens têm mais dificuldade do que as mulheres em tirar licenças para cuidar das crianças. Melhorias nessas áreas fariam com que as pessoas se tornassem mais positivas em relação a ter filhos", conclui.


Texto actualizado dia 5/6/2024, às 10h: Foram acrescentados dados sobre a taxa de natalidade em Tóquio.