À terceira tentativa, a Boeing leva finalmente astronautas até ao espaço

Lançamento há muito aguardado da cápsula Starliner foi bem-sucedido esta quarta-feira. O foguetão da Boeing está há anos para descolar, mas os atrasos sucessivos deixaram a empresa atrás da SpaceX.

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Os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams descolaram esta quarta-feira CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH/EPA
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O plano correu, finalmente, como previsto e a Boeing lançou a sua cápsula espacial Starliner para o espaço com dois astronautas a bordo. Esta quinta-feira às 15h52 (hora de Portugal continental), e depois de duas tentativas canceladas (em Maio e no último sábado), os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams foram lançados na Starliner, levada pelo foguetão Atlas V. Se tudo correr bem, esta quinta-feira chegarão ao seu destino: a Estação Espacial Internacional.

“Vamos, Calypso”, disse Suni Williams antes da descolagem. A astronauta deu a alcunha de Calypso à cápsula em homenagem ao célebre navio usado pelo explorador Jacques Cousteau.

Este é o primeiro teste com astronautas em trânsito até à Estação Espacial Internacional, dois anos depois do teste sem pessoas a bordo. Os dois astronautas estarão quase uma semana fora do planeta, permitindo testar a cápsula espacial e os sistemas de navegação, por exemplo. No entanto, farão muito mais do que isso.

Um dos propósitos desta missão é levar uma bomba para reparar o processador de urina da estação espacial – fundamental no sistema de recuperação de água. Neste momento, e desde 29 de Maio, quando o sistema falhou, a urina tem sido simplesmente guardada em recipientes (à espera que esta peça chegue).

A missão desta quinta-feira é um último teste para comprovar a segurança e capacidade da cápsula desenvolvida pela Boeing e pela Lockheed Martin, antes de a NASA a certificar para os rotineiros voos tripulados dos Estados Unidos até à Estação Espacial Internacional. Se a Starliner viajar e voltar sem percalços, os Estados Unidos garantem mais uma opção para colocar astronautas em órbita.

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A cápsula Starliner descolou a bordo do foguetão Atlas V EPA

Após a descolagem do Cabo Canaveral (Flórida, Estados Unidos), a cápsula desenvolvida pela Boeing e pela Lockheed Martin (um consórcio conhecido como United Launch Alliance)​ separou-se do segundo andar do foguetão e cerca de meia hora depois ligou os seus propulsores para entrar numa órbita estável em torno da Terra. E aqui soaram as palmas e alguns gritos de celebração na sala de controlo. Ainda demorará mais de um dia até a Starliner encontrar a trajectória até à Estação Espacial Internacional, onde deverá atracar esta quinta-feira por volta das 17h15.

Agora, há mais um veículo

A promessa de uma cápsula de transporte da Boeing tem sido consecutivamente adiada. Desde 2014 que a agência espacial norte-americana apoiou empresas norte-americanas para criar cápsulas que permitissem chegar à Estação Espacial Internacional – desde 2011 até 2020, a NASA estava dependente do transporte através dos Soiuz russos.

Naquela que foi vista como uma corrida entre a Boeing e a SpaceX, a cápsula Crew Dragon venceu confortavelmente, enviando a primeira tripulação para o espaço em Maio de 2020. Desde aí que esse é o único veículo utilizado pelos Estados Unidos para chegar a órbita. A Starliner será um bem-vindo segundo veículo.

Os atrasos deveram-se a inúmeros problemas ao longo da produção e teste do equipamento da Starliner, desde válvulas defeituosas, software insuficiente ou mesmo fugas de hélio no sistema de propulsão. Nas duas tentativas anteriores, a 6 de Maio e a 1 de Junho, o voo foi adiado devido a um defeito numa válvula, no primeiro caso, e a erros detectados no software, no caso do segundo.

A cápsula, de cinco metros de altura e 4,6 metros de diâmetro, é reutilizável (com um limite de até dez utilizações) e tem capacidade para transportar até sete pessoas, embora as missões tripuladas até à estação espacial rondem os três a cinco passageiros por viagem.

Apesar das enormes expectativas, também devido aos dez anos que intervalam a assinatura do contrato com a NASA e o lançamento tripulado, Butch Wilmore atenua a ambição: “Este é um voo de teste. Voar e operar no espaço é difícil. É muito difícil e vamos encontrar algumas coisas [inesperadas]. Isso é normal. É o primeiro voo em que integramos todas as capacidades desta cápsula espacial”, explicou o astronauta ao site Ars Technica.

O lançamento da Starliner é a última peça do novo modelo de exploração espacial da NASA a entrar em funcionamento. Desde os contratos assinados com a SpaceX e a Boeing para fazer o transporte para a estação espacial que os Estados Unidos têm apostado nos privados como criadores do equipamento espacial – incluindo foguetões e cápsulas. Embora já antes as empresas privadas construíssem o equipamento da NASA, neste caso o próprio desenvolvimento está a cargo das empresas, permitindo que criem soluções mais baratas e melhores (que possam ser usadas no contrato com a NASA e depois vendidas a outros).

Algo que funcionou para a SpaceX de Elon Musk e em que a Boeing quer agora recuperar terreno. Esta semana, entre atracar na Estação Espacial Internacional e regressar a Terra, a NASA irá descobrir se tem mesmo um segundo veículo para viajar até à órbita terrestre.

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