Artista detido em Hong Kong por fazer gestos ligados ao massacre de Tiananmen

Repressão a qualquer acto que sinalize o episódio que as autoridades chinesas negam há 35 anos tem aumentado todos os anos. Em Pequim, a Praça de Tiananmen foi encerrada ao público.

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O artista Sanmu Chen foi detido logo depois da sua performance que assinalava o aniversário do massacre de Tiananmen Tyrone Siu / REUTERS
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Um artista foi detido pela polícia de Hong Kong por ter feito gestos com as mãos que indicavam a data do massacre de Tiananmen, a 4 de Junho de 1989, num local público da cidade.

Sanmu Chen, um artista de Hong Kong, anunciou uma performance em frente à Estação de Causeway Bay, no coração da cidade. Rodeado de jornalistas e pessoas a assistir, o artista fez gestos que aparentemente representavam os números 8, 9, 6 e 4, remetendo para a data do massacre. Antes, Chen tinha feito os gestos de entornar vinho no chão, que, segundo o costume chinês, é uma prática de homenagem aos mortos.

O artista foi detido de imediato e, segundo o Guardian, a polícia disse estar a responder a queixas de “perturbações” na via pública. Ao fim de algumas horas, o homem foi libertado sem quaisquer condições.

Os aniversários do massacre ocorrido há 35 anos são sempre momentos de enorme sensibilidade na China. Qualquer tipo de cerimónia pública está totalmente proibida e mesmo as menções nas redes sociais são vigiadas de perto pelas autoridades, tendo havido vários casos no passado de pessoas presas por causa de publicações online.

Esta terça-feira, a Praça de Tiananmen foi encerrada e os turistas que tinham adquirido bilhetes foram informados da possibilidade de reaverem o dinheiro gasto. Desde o fim do dia anterior ao aniversário que a Avenida de Chang’an, que acompanha a praça, está encerrada tanto a peões como a ciclistas, segundo testemunhas citadas pela Reuters.

A 4 de Junho de 1989, as autoridades chinesas chamaram tanques do Exército do Povo para pôr fim a um protesto pacífico de estudantes na Praça de Tiananmen que se desenrolava há semanas. O regime chinês nunca assumiu responsabilidades pelo massacre e nem sequer há um número aproximado de vítimas – calcula-se que centenas ou até milhares de pessoas tenham morrido pela repressão dos militares.

Para a posteridade ficou apenas uma imagem, que se tornou simbólica desde então, em que é possível ver um homem de branco em frente a uma coluna de tanques.

Até há alguns anos, Hong Kong era palco de um grande memorial para assinalar o massacre na Praça de Tiananmen, em Pequim, mas o endurecimento do regime chinês sobre o território por si administrado tornou praticamente inexistente qualquer evento que sirva para recordar o episódio.

A polícia reforçou a presença em torno do Victoria Park, onde tradicionalmente se organizava uma grande vigília no aniversário do massacre, mas que há quatro anos está proibida pelas autoridades.

Na semana passada, seis pessoas foram detidas ao abrigo da nova Lei de Segurança Nacional por terem feito publicações online alegadamente relacionadas com a data. A legislação aprovada em 2020 e reforçada em Março deste ano prevê penas pesadas para crimes como a traição ou a sedição, alargando a sua abrangência a praticamente qualquer acto de crítica ou oposição ao regime de Pequim.

Ao contrário do que acontece na China, a data do massacre é assinalada em vários pontos do mundo pelas comunidades de chineses no estrangeiro. O principal ponto é em Taiwan, a ilha reivindicada por Pequim, mas que se mantém autónoma desde 1949.

O Presidente Lai Ching-te defendeu a homenagem aos mortos em Tiananmen e lembrou que “um país verdadeiramente respeitável permite que o seu povo possa falar”.

“A comemoração de 4 de Junho não existe apenas por causa do 4 de Junho, mas também porque as pessoas em todo o mundo que se preocupam com a democracia e a liberdade partilham uma crença comum: apenas a democracia e a liberdade podem proteger verdadeiramente as pessoas”, defendeu, através de um comunicado.

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