Morrer sozinho

A solidão não desejada, é a ciência que o diz, rouba tanta vida como fumar 15 cigarros ou ingerir cinco bebidas alcoólicas por dia durante toda a vida.

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A Jerónima tem 94 anos e vive sozinha. Às vezes, o filho, emigrante em França há mais anos do que aqueles que me lembro de existir, pede-me para lhe ir espreitar as pernas. Vive preocupado com o aparecimento de novas úlceras, porque, já por duas vezes, as úlceras da perna deram o ar da sua (des)graça e o processo de cicatrização foi assustadoramente lento. Nunca consegui dizer ao filho, embora às vezes tenha vontade, que uma nova úlcera da perna era o melhor que podia acontecer à Jerónima neste momento. Porque naquela casa de paredes repletas de fotografias a cores e a preto e branco, de vivos e mortos, a Jerónima já só tem como companhia os fantasmas do marido e do filho mais novo, ambos mortos há mais de dez anos.

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