Um grande vinho do Douro, branco, ponto

O Mirabilis Branco 2022 é um vinho que apetece descrever como “um grande tinto branco”, não fôssemos com isso confundir o leitor. Não, não é um blanc de noirs.

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O Mirabilis Branco 2022 é feito de matéria-prima rara das vinhas velhas do Douro Nelson Garrido
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É impressionante como um produtor que não tem uma única cepa de uvas brancas faz um vinho branco de topo, como é o caso do Mirabilis. É, se não se conhecer o Douro. Quem sabe um pouco mais da região sabe que nas suas vinhas velhas e centenárias — pode parecer confuso, mas é a própria Quinta Nova a fazer a distinção — há matéria-prima rara, como a Welwitchia mirabilis, a exótica e difícil de encontrar flor do deserto africano que vemos no rótulo do vinho da família Amorim.

Há nessas vinhas, que Ana Mota, directora de viticultura e produção do grupo, conhece muito bem, vários tesouros. Para as uvas brancas poucos olham, mas é também desse olhar de olheiro que nasce este vinho de perfume inebriante, feito com Viosinho, Gouveio e outras castas da misturada que são as vinhas centenárias. O bouquet, que poderíamos usar ao pescoço, tem fruta branca, num ponto ideal de maturação, flores, frescura e notas de barrica.

Esteve nove meses em carvalho francês e húngaro, sobretudo segundo e terceiro usos, diferentes tanoarias, tudo escrutinado semanalmente por Jorge Alves e restante equipa de enologia entre Janeiro e Maio, quando é engarrafado.

Noutras edições do Mirabilis (também quer dizer “algo maravilhoso”) essas notas do estágio eram, para alguns, excessivas. Não provámos esses vinhos, mas este 2022, engarrafado há sensivelmente um ano e lançado há dias, pareceu-nos bastante equilibrado. Sentimos a barrica, mas como se estivéssemos num banco de madeira, à fresca, por debaixo de árvores de fruto em flor.

Tem acidez, apesar do ano quente de 22, estrutura, tanino (da madeira e possivelmente das grainhas, já que a uva foi prensada inteira) e, já agora, álcool, 14%, apesar da altitude — 650 metros, em solos de transição xisto / granito, Alijó — e independentemente do ano, já que as colheitas anteriores tinham o mesmo grau. É um vinho que apetece descrever como “um grande tinto branco”, não fôssemos com isso confundir o leitor. Não, não é um blanc de noirs. O que queremos dizer é que é um grande vinho, branco, ponto.

No futuro, o Mirabilis, que só é possível porque há um vinho chamado Grainha (ao fazer o segundo foi possível perceber que havia matéria para criar o primeiro), terá parte do lote com estágio em cimento, uma aposta do produtor que não se esgota na escultura funcional que imita a orografia construída do Douro vinhateiro e as curvas do rio e é a marca da nova adega, inaugurada em 2023.

Uma mancheia de viticultores do Douro fornecem a tal matéria-prima rara — um tesouro que também existe noutras regiões vitivinícolas portuguesas, atenção —, com rendimentos baixíssimos (2100 quilos por hectare). Se por outra razão não fosse (e elas existem), é preciso acarinhá-los, tratá-los bem. A estes cinco e a todos os outros que ainda permitem que a região dê à garrafa coisas tão boas como este Mirabilis.

Nome Mirabilis Branco 2022

Produtor Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo (Família Amorim)

Castas Viosinho e Gouveio de vinhas velhas e vinha centenária

Região Douro

Grau alcoólico 14%

Preço (euros) 59 (PVP recomendado)

Pontuação 95

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova A Quinta Nova não tem uvas brancas, mas da riqueza das vinhas velhas de uma mancheia de fornecedores faz este vinho branco que ombreia com um qualquer grande tinto. Esteve nove meses em carvalho francês e húngaro, sobretudo segundo e terceiro usos, diferentes tanoarias, tudo escrutinado semanalmente pela enologia. Tem acidez, tanino (da madeira e possivelmente das grainhas, já que a uva foi prensada inteira) e álcool, 14%, apesar da altitude — 650 metros, em solos de transição xisto / granito, Alijó.

Origem Cima Corgo (D)

Tipo Branco

Designativo

Ano 2022

Características

Harmonização

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