Arquitectura
Um antigo contentor deu lugar a uma casa minúscula (com terraço no telhado)
A casa Cargo tem seis metros de comprimento, mas não nos deixemos enganar pelas dimensões. Há espaço para cozinha, casa-de-banho, quarto, arrumos e até um terraço para se ver as estrelas.
O antigo e deformado contentor de carga estava arrumado na carpintaria da Madeiguincho até que um cliente o quis transformar numa tiny house (uma casa minúscula, em português). O pedido era simples: apesar do pouco espaço, tinha de estar equipada com os espaços essenciais de uma habitação. E, já agora, ter um terraço no telhado para “poder ver as estrelas de noite e a vista durante o dia”, recorda ao P3 Gonçalo Marrote, arquitecto responsável pelo projecto.
“A partir daqui, o cliente deu-nos liberdade total para fazermos o que quiséssemos. Uma das ideias iniciais era que as pessoas perceberem que era um contentor convertido em casa”, acrescenta. Por isso, mantiveram as portas numa das laterais.
A casa Cargo, nome que vem de "contentor de carga" em inglês, demorou oito semanas a ser construída e está agora num terreno em Lagos, no Algarve. Tem seis metros de comprimento por dois de largura, dimensões que o arquitecto considera “intermédias” — especialmente quando comparadas às da casa mais pequena que esta carpintaria familiar alguma vez fez: tinha quatro metros de comprimento e dois de largura.
Apesar de minúscula, adianta Gonçalo Marrote, é uma habitação com espaço mais do que suficiente para acomodar uma cozinha equipada com frigorífico e placa de indução, casa de banho, bancos que se transformam em camas e uma cama de casal que parece deslizar até à zona exterior quando as portas laterais se abrem.
Do lado de fora ficam o segundo duche, o espaço para arrumos e o tão desejado rooftop. Segundo o arquitecto, “podia ser uma habitação permanente”, mas o objectivo do proprietário é utilizá-la para Airbnb.
As paredes exteriores foram revestidas a madeira criptoméria, uma espécie florestal dos Açores, e queimadas com uma técnica japonesa que garante maior durabilidade. Para o pavimento escolheram placas de viroc (material parecido com cimento) e para as janelas e portas optaram criar “formas curvas e detalhadas” em ferro pintado. “Não são formas fáceis de executar, porque é difícil dobrar e soldar o ferro e também não é algo que se vê muito. Depois temos as paredes da cozinha e quarto, que são feitas de madeiras exóticas reutilizadas que tínhamos na carpintaria. E para as telhas fizemos o mesmo”, explica.
Pelas contas de Gonçalo Marrote, a Madeiguincho já construiu 20 casas desde 2016. A próxima já está a ser pensada, o design será totalmente diferente da Cargo e vai estar assente em quatro rodas. “Gostamos de construir casas pequenas porque conseguimos pensar e fazer tudo ao detalhe e optimizar o espaço. Além disto, podemos construir como se fazia há 50 anos, com madeira e ferro, em vez de alumínios e PVC como se faz agora”, conclui.