Marcas de perfumes de luxo usam trabalho infantil, revela BBC

O jasmim usado em perfumes da Lancôme, propriedade da L’Oréal, e da Aerin Beauty, da Estée Lauder, foi colhido por menores alguns com apenas cinco anos.

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Cerca de metade da produção mundial de jasmins provém do Egipto Irina Iriser/Unsplash
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O jasmim usado em perfumes da Lancôme, propriedade da L'Oréal, e da Aerin Beauty, da Estée Lauder, foi colhido por menores, acusa uma investigação da BBC, que seguiu o rasto do ingrediente até aos campos de flores egípcios, de onde provém cerca de metade da produção mundial de jasmins.

Apesar de ambas as empresas se afirmarem empenhadas em combater o trabalho infantil, a BBC apurou que, por causa dos orçamentos mais apertados, que resultam num preço de mão-de-obra mais baixo, quem se dedica à apanha de jasmim inclui no processo os filhos, de forma a aumentar o rendimento. Entre os menores, os jornalistas dizem ter encontrado crianças de apenas cinco anos.

Ouvido pela BBC, o relator especial das Nações Unidas sobre as formas contemporâneas de escravatura, Tomoya Obokata, afirmou-se perturbado com o que viu nas filmagens secretas nos campos de jasmim egípcios na última colheita. “No papel, eles [a indústria] estão a prometer tantas coisas boas, como a transparência da cadeia de abastecimento e a luta contra o trabalho infantil. Olhando para estas imagens, não estão a fazer as coisas que prometeram fazer”.

No caso da Lancôme, o jasmim é um dos ingredientes do Idôle L'Intense; na Aerin Beauty, faz parte da composição dos perfumes Ikat Jasmine e Limone Di Sicilia.

Depois de colhido e pesado, o jasmim, conta a BBC, é transferido para uma das fábricas locais que extraem o óleo das flores: Fakhry and Co, Hashem Brothers e Machalico. São estas que determinam o preço do quilo do jasmim, consoante o orçamento que recebem de quem se encontra mais acima na cadeia, como a Givaudan, sediada na Suíça, que procede à transformação das matérias-primas no perfume que chega às prateleiras.

Mas a responsabilidade, defendem vários especialistas do sector, está no topo da cadeia, onde os perfumistas decidem os orçamentos. “O interesse dos mestres é ter o óleo mais barato possível para colocar no frasco da fragrância” e depois vendê-lo ao preço mais alto possível. E, apesar de não terem uma palavra directa sobre o valor do trabalho ou da matéria-prima, são quem exerce pressão para manter os valores o mais baixo possível.

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