Os Artistas Unidos estão de novo à procura de casa
Companhia fundada por Jorge Silva Melo vai ter de sair do Teatro da Politécnica até 31 de Julho. Câmara de Lisboa diz-se empenhada em encontrar uma solução que garanta a sua continuidade.
“Não se trata bem de uma novidade; na verdade, é a repetição do que já tínhamos anunciado há dois anos.” Pedro Carraca, um dos directores dos Artistas Unidos, enquadra assim, em declaração ao PÚBLICO, a actual situação da companhia de Lisboa descrita num comunicado tornado público esta quarta-feira: “Os Artistas Unidos vêem-se, uma vez mais, sem um espaço de trabalho e de representação pelo término do contrato de cessão de exploração [do Teatro da Politécnica] com a Reitoria da Universidade de Lisboa”.
Isto significa que, até ao dia 31 de Julho, os Artistas Unidos vão ter de libertar o espaço que, desde 2011, têm ocupado no edifício à entrada do Jardim Botânico de Lisboa.
Há dois anos, terminado o primeiro prazo negociado com a Universidade da Lisboa, a companhia vira-se já na contingência de perder aquele palco. Mas um acordo mediado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) garantiu-lhe a permanência no Teatro da Politécnica até meados de 2024.
Na altura, a autarquia, já presidida pelo social-democrata Carlos Moedas – que recentemente assumiu também a pasta da Cultura, na sequência da demissão do vereador Diogo Moura (CDS-PP) –, assinou o compromisso de avançar com a requalificação do edifício d' A Capital, no Bairro Alto, onde os Artistas Unidos iriam ganhar a sua nova casa, no segundo semestre do corrente ano.
“Passados estes dois anos, as obras ainda nem começaram, e continuamos a não saber o que é que vai acontecer”, constata Pedro Carraca, que, no entanto, salienta “a disponibilidade, o diálogo e o esforço activo” que a CML continua a manifestar para encontrar uma solução “digna e estável” para a companhia. “Ainda não falámos com o presidente, mas temos estado em contacto corrente com a divisão da Cultura”, acrescenta este co-director dos Artistas Unidos (função que divide com João Meireles e António Simão).
Ao PÚBLICO, o gabinete de Carlos Moedas confirma que a CML “continua empenhada na resolução deste processo e em encontrar uma solução, consensualizada com os Artistas Unidos, que permita a continuidade do seu trabalho”. Avança manter “o edifício d' A Capital como uma possibilidade para acolher” a companhia. No entanto, “encontrando-se o projecto para este imóvel ainda em execução, [a Câmara] tem procurado soluções, ainda que temporárias, junto de outros espaços municipais”. A autarquia adianta também a expectativa de que “as obras possam estar concluídas em 2026”.
Próxima estreia no Citemor
Admitindo também que a boa solução possa continuar a passar pel’A Capital – o edifício na Rua do Diário de Notícias, que deve o nome ao facto de aí ter sido fundado aquele vespertino –, Pedro Carraca alerta para a necessidade de resolver a questão mais imediata. Até porque os Artistas Unidos estão obrigados, enquanto entidade apoiada pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes), a cumprir o seu plano de programação. E se têm já palco para a estreia da terceira parte da trilogia do dramaturgo catalão Pau Miró – depois de Girafas e Leões, a nova criação, Búfalos, terá estreia a 25 de Julho no Citemor (o festival de Montemor-o-Velho vai decorrer de 19 de Julho a 10 de Agosto) –, já o mesmo não acontece com a produção seguinte, Vento Forte, do norueguês Jon Fosse, Nobel da Literatura deste ano.
Em causa fica também a reposição das duas anteriores peças de Pau Miró, que estava prevista para acontecer em simultâneo com Búfalos. Todo um programa para o qual “as equipas estão contratadas e os gastos já feitos”, salienta o director.
Com este quadro, o próprio contrato da companhia com a DGArtes “pode estar em causa”, o que pode também levar “à extinção da companhia”, teme Pedro Carraca.
O director e também encenador avança, contudo, que tanto a DGArtes como o Ministério da Cultura estão a par da situação dos Artistas Unidos, e que a direcção já foi mesmo contactada pelo gabinete da ministra Dalila Rodrigues.
Aberto a qualquer solução mais imediata, que certamente voltará a ser transitória, Pedro Carraca diz que, “neste momento, qualquer espaço que tenha 250 a 300 metros quadrados e um bom pé direito serve à companhia”. “Nem precisamos de um teatro montado; assim podemos equipá-lo como quisermos”, acrescenta.
Fundada em 1996, com base no grupo que, no ano anterior, sob a direcção de Jorge Silva Melo (1948-2022), tinha estreado a peça António, um Rapaz de Lisboa, a companhia Artistas Unidos ocupou já o edifício A Capital entre esse ano e 2002, altura em que teve de recorrer ao Teatro Taborda (até 2005) e depois ao Convento das Mónicas, antes de aportar ao Teatro da Politécnica, onde, nestes últimos 13 anos, apresentou 130 espectáculos. Resta agora saber que novo palco (e futuro) lhe estará reservado.