A direita radical alemã está a apropriar-se de uma canção techno sobre amor

A música fala de amor, mas um grupo de alemães cantou slogans nazi ao som dela. Há relatos semelhantes noutras festas, nomeadamente do partido de nacionalista e xenófobo AfD.

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As expressões e simbologias nazis são proibidas no país e podem levar a multa ou pena de prisão entre um a três anos Mika Baumeister/Unsplash
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L’Amour Toujours, do DJ italiano Gigi D’Agostino, em nada se assemelha à mensagem da extrema-direita: “Amor, eu vou estar sempre / Ao teu lado / Não me deixes muito tempo à espera / Por favor, anda”, ouve-se colado à batida techno. Mas, nas últimas semanas, a música de 1999 foi associada à direita radical, depois de algumas pessoas terem gritado coisas como “Imigrantes fora” e “A Alemanha para os alemães” ao som dela.

Foi no Pony Bar, na ilha de Sylt (Alemanha), que, na semana passada, as expressões nacionalistas foram ouvidas enquanto a música, que não tem qualquer relação com a direita radical, se ouvia. Num vídeo que se tornou viral, vê-se um homem a fazer aquilo que parece ser uma saudação nazi e a colocar dois dedos em cima dos lábios, no que pode ser interpretado como uma referência ao bigode de Hitler.

A Euronews refere ainda que uma jovem negra foi insultada e esmurrada na cara.

Os organizadores da Oktoberfest, o célebre festival de cerveja, que se realiza em Setembro em Munique, já disseram querer proibir a canção. “Não há lugar para esse lixo de extrema-direita no festival”, disse Clemens Baumgärtner, responsável pelo festival. O evento, considera, é “leve e bonito” — e também “apolítico”.

Perante o sucedido, a Vodafone e o Deutsche Bank, anunciaram consequências para os funcionários que, alegadamente, estiveram envolvidos no momento. Thorkild Petersen-Thrö, do Ministério Público de Flensburg, referiu que as frases proferidas são “puníveis” — e usou o exemplo de Björn Höcke, do partido de direita radical Alternativa pela Alemanha (AfD), que foi levado a julgamento por proferir o slogan nazi “Tudo pela Alemanha!” numa campanha eleitoral regional.

Também a ministra do Interior, Nancy Faeser disse, num programa de televisão, que as frases são “profundamente desumanas e racistas”. As expressões e simbologias nazis são proibidas no país e podem levar a multa ou pena de prisão entre um a três anos.

O Pony Bar também se manifestou. Numa publicação no Instagram disse que estavam a receber “insultos e ameaças de morte”. “Decidimos divulgar o vídeo para nos protegermos, aos nossos funcionários e aos nossos convidados fiéis. Podem ver por vocês que a maioria se está a divertir, enquanto um pequeno grupo está a cantar algo que não está de acordo com os nossos valores fundamentais.”

Tim Becker, um dos proprietários, disse, citado pelo Guardian, que nem ele, nem o DJ que passou a música, tinham qualquer conhecimento de que esta pudesse estar associada à direita radical. “Não vamos voltar a passar a música”, garantiu.

Há relatos de que a música já foi usada noutras festas alemãs, nomeadamente em Janeiro, na sequência de uma conferência do AfD, recentemente expulsos do seu grupo no Parlamento Europeu, depois de o cabeça de lista da AfD, Maximilian Krah, ter afirmado que nem todos “os que usavam uniforme das SS eram automaticamente criminosos”. Nessa festa, que contava com membros do partido e da juventude do partido, terão sido proferidos os mesmos slogans.

À revista Der Spiegel, o autor da música terá dito desconhecer o aproveitamento da sua música para fins racistas e nacionalistas. “A minha canção é sobre um sentimento maravilhoso, grande e intenso que liga as pessoas. É o amor.

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