Ataques a Rafah continuam, apesar da decisão do Tribunal Internacional de Justiça
Tropas israelitas mantêm a ofensiva contra a cidade no Sul da Faixa de Gaza. Negociações entre Israel e Hamas devem ser retomadas na próxima semana.
Um dia depois de o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ter instado as autoridades israelitas a cessarem os ataques contra Rafah, as Forças de Defesa de Israel (IDF) voltaram a atacar a cidade no Sul da Faixa de Gaza. Mais de 30 pessoas morreram nos ataques deste sábado em todo o território palestiniano.
Depois de ter rejeitado de imediato obedecer à decisão proferida pelo colectivo de juízes do TIJ na sexta-feira, o Governo israelita deu ordens para que os ataques em Rafah prosseguissem. Pelo menos uma pessoa morreu, de acordo com a Al-Jazeera, que diz que as tropas israelitas estão a avançar para o hospital Kuwaiti.
Os juízes do TIJ responderam a um pedido de urgência apresentado pela África do Sul para exigir a retirada militar de Israel de Rafah. A mais alta instância judicial da ONU está a debruçar-se sobre um caso em que Israel é acusado pelo país africano de estar a cometer um genocídio contra a população palestiniana na Faixa de Gaza.
Israel respondeu de forma desafiadora à decisão do tribunal das Nações Unidas, que exigiu a retirada “imediata” das forças israelitas de Rafah, cidade que recebeu quase um milhão de deslocados internos de outras regiões de Gaza, ao fim de meses de combates. O Governo de Benjamin Netanyahu diz que as IDF continuam empenhadas na sua missão de destruir os últimos redutos do Hamas em Gaza.
O ataque mais violento deste sábado ocorreu mais a norte, quando uma escola primária próxima da cidade de Jabalia, onde se localiza um grande campo de refugiados, foi atingida por um bombardeamento aéreo israelita. Pelo menos dez pessoas morreram e 17 ficaram feridas, entre as quais várias crianças que brincavam no recreio da escola, segundo testemunhas ouvidas pela Al-Jazeera.
As IDF não comentaram especificamente este ataque, mas informaram que as suas tropas “eliminaram dezenas de terroristas em combate próximo e ataques aéreos” em Jabalia.
Apesar de Israel ter contado com o apoio dos EUA e do Reino Unido, que criticaram a decisão do TIJ, o isolamento internacional das autoridades israelitas parece ser cada vez maior, à medida que a guerra em Gaza se vai arrastando. Depois de ter anunciado que pretende reconhecer a Palestina como Estado independente, o Governo espanhol redobrou as críticas a Israel.
A ministra da Defesa, Margarita Robles, foi a mais dura ao descrever a ofensiva israelita em Gaza como “um verdadeiro genocídio”, em entrevista ao canal público TVE. A vice-primeira-ministra Yolanda Díaz já tinha usado o mesmo termo alguns dias antes, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, exigiu o cumprimento por Israel das determinações do TIJ, lembrando o seu carácter “vinculativo”.
“O mesmo acontece para o cessar-fogo, a libertação de reféns e o acesso de ajuda humanitária”, afirmou Albares.
Entretanto, espera-se que as negociações entre o Hamas e Israel, mediadas pelo Egipto, Qatar e com envolvimento norte-americano, sejam retomadas na próxima semana, de acordo com um diplomata citado pela Reuters. O objectivo é que seja alcançado um entendimento que permita a libertação de mais de cem reféns raptados pelo Hamas desde 7 de Outubro do ano passado e a declaração de tréguas em Gaza.
O Hamas exige o fim imediato das hostilidades e a libertação de centenas de prisioneiros palestinianos mantidos em prisões israelitas, mas as autoridades israelitas dizem que os termos do último acordo que foi negociado eram inaceitáveis.