Temido responde a Marcelo: “PRR não tem a ver com a questão do Orçamento”

Candidata recusa leitura nacional do resultado das europeias. Diz que o sentido de voto do PS no OE2025 “depende do percurso da AD” e rejeita pressões presidenciais.

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Marta Temido, cabeça de lista do PS às eleições europeias de 9 de Junho Rui Gaudêncio
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A antiga ministra da Saúde garante que cumprirá o mandato de eurodeputada e assume esperar que António Costa possa ter um papel relevante no futuro próximo da União Europeia, até porque "a Europa teria muito a ganhar e Portugal também". Em entrevista ao programa Hora da Verdade do PÚBLICO e da Rádio Renascença, Marta Temido responde à pressão do Presidente da República relativamente ao posicionamento que o PS deve adoptar relativamente ao Orçamento do Estado para 2025 (OE2025).

O Partido Socialista elegeu nove deputados em 2019. É possível repetir um resultado destes em Junho?
O resultado depende dos portugueses, é evidente. Vamos continuar a fazer, até 9 de Junho, o maior esforço possível no sentido de ser claros sobre o que está em causa nestas eleições europeias: é a Europa que está em risco, são duas visões muito diferentes que podem triunfar. Na altura foi um resultado muito bom. As sondagens não indicam essa possibilidade, mas trabalhamos para o melhor resultado que é ganhar as eleições. O objectivo é melhorar a composição do grupo dos socialistas europeus no Parlamento Europeu.

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Marta Temido vai fazer do combate à extrema-direita e defesa de um plano europeu de apoio à habitação dois pilares da sua campanha.

Maria Lopes,Susana Madureira Martins (Renascença)

Ultrapassar o PPE.
Ou ultrapassar outras forças que estão à nossa direita e minimizar o risco de coligações adversárias do projecto europeu, que parecem uma possibilidade, quando ouvimos o PPE dizer que dependendo daquilo que sejam os resultados eleitorais, poderá fazer determinadas escolhas e alianças.

A lista de candidatos do PS não repete um único dos actuais eurodeputados. Só Francisco Assis já esteve em Bruxelas. A mudança total não provoca dificuldades?
Só posso dizer duas coisas: a primeira é que não me ficaria bem como cabeça de lista escolhida pelos órgãos do partido fazer comentários sobre essas escolhas. E a segunda, muito mais relevante, é que todos nós, e eu particularmente, tenho contado com um apoio inexcedível dos actuais eurodeputados. De uma generosidade, capacidade de ajuda e de uma disponibilidade que eu posso dizer, e já levo alguns anos disto, que é absolutamente rara.

Vão estar na campanha? Pedro Marques, Margarida Marques...
Vão estar na campanha, e já têm estado. Mais do que isso, têm sido uma consulta quase diária na preparação deste trabalho.

E vai ter António Costa?
Não faço a menor ideia quais são as disponibilidades e as vontades.

Convidou-o?
Claro que sim. Não é segredo que entrei na política muito pela mão de António Costa, nem o apreço que tenho e até, de alguma forma, uma relação um pouco emotiva, porque passámos momentos muito difíceis em conjunto e aprendi com ele uma coisa muito importante para a minha vida pessoal e política: não há problemas sem solução. E isso, quando se vê o mundo quase a desabar, é uma coisa muito importante.

Conta com António Costa se, a meio da campanha, precisar de um boost?
Vamos ver. De estratégias de campanha percebo pouco. Se isso for relevante, penso que poderá acontecer.

Estará também sempre acompanhada por Pedro Nuno Santos?
Vamos procurar alinhar agendas o mais possível.

Vai ficar exilada em Bruxelas durante cinco anos?
Deixe-me ser muito clara sobre isso: não aceitarei qualquer outro desafio enquanto estiver a exercer o meu mandato de eurodeputada. Tem a ver com aquilo que está em causa neste mandato ao Parlamento Europeu, uma visão da Europa. Estou muito empenhada e entusiasmada neste projecto e vou levá-lo até ao fim.

Os resultados eleitorais destas europeias podem condicionar a política caseira? São uma espécie de primárias para futuras legislativas?
Não aceito essa leitura. O que está em causa é muito mais do que uma segunda volta das legislativas ou umas primárias. Não há possibilidade de leituras transversalizadas, creio eu.

Se o PS ganhar, sente-se legitimado para ter mais pressa em provocar eleições legislativas?
Evidentemente que todos os bons resultados em todas as eleições, sejam quais forem, reforçam o partido, a sua implantação e a sua capacidade reivindicativa. Isso é diferente de retirar consequências, de fazer leituras para, ou de instrumentalizar uma eleição.

Deixou de ouvir-se da parte do PS que é “praticamente impossível” chumbar o Orçamento do Estado. Já vê como possível a viabilização por parte do PS?
A opção relativamente a esse tema é clara em dois pontos: o orçamento é um instrumento de política, não é uma escolha financeira orçamental abstracta; e com determinado tipo de políticas seria absolutamente inviável um determinado sentido de votação. Temos visto uma curiosa oscilação da AD entre o que parecia estar no seu programa e o que, em alguns pontos, é o programa do PS.

A linha do PS tem sido dizer que é praticamente impossível, muito difícil.
E parece-me que é praticamente impossível e muito difícil. O projecto político por trás de um orçamento da AD dificilmente é compatível com o que são as nossas linhas de aceitabilidade. [O sentido de voto] Depende do percurso que [a AD] fizer em termos de evolução.

O Presidente veio colocar pressão: se o orçamento não for viabilizado, os projectos do PRR podem ficar em risco. O PS é pressionável neste ponto?
Não me parece que o PS deva ser pressionável por qualquer argumento. E não me parece que a execução do PRR tenha muito a ver com a questão do orçamento. Está no terreno, tem a ver com outros níveis da administração mais de proximidade do que com outras circunstâncias.

O argumento do Presidente é fraco?
Eu não vou classificar, longe de mim, o argumento do sr. Presidente. Neste momento, se calhar, a tónica será mais até no outro ponto.

Qual?
O da execução.

É candidata às europeias, mas também ex-ministra da Saúde. Qual a sua opinião sobre a exoneração de Fernando Araújo da direcção executiva do SNS?
Tenho procurado guardar recato em relação ao sector. A direcção executiva é um projecto essencial para a reorganização do SNS. Houve uma linha de trabalho que foi interrompida. Desejo a maior das sortes à nova direcção executiva.

Esta escolha do militar Gandra d’Almeida para a direcção executiva faz sentido?
Não considero o estatuto civil ou militar como um estatuto em si próprio. A minha experiência foi muito positiva no trabalho com as forças militares, que podem ser bastante importantes na organização de uma resposta de outro tipo de emergência.

Ficou surpreendida com estas decisões da ministra da Saúde? Há aqui um sentido quase de ajuste de contas?
Espero que não. Seria um péssimo prenúncio. Ficámos, de facto, perplexos com alguma tentação de ‘estes não são nossos, vão todos embora’. É um sinal preocupante.

O que espera do plano de emergência da saúde? O Governo deveria esperar por resultados da reforma que não fez ainda um ano?
Eu ainda não percebi muito bem o que é o plano de emergência da saúde, se é sazonal, se é para o SNS. Acho que, francamente, quando foi preciso escrever o programa eleitoral, era preciso escrever sobre a saúde e colocar um plano foi a solução de recurso. Vamos ver.

A Operação Influencer não teve desenvolvimentos sobre o ex-primeiro-ministro. António Costa ainda tem condições para um futuro na Europa este ano?
Sempre achei que sim. Sei que muitos países europeus têm essa expectativa. Vamos aguardar a evolução da situação para perceber se isso se torna uma possibilidade ou não. Faço votos para que sim. Acho que a Europa teria muito a ganhar e Portugal também.

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