Jovens de bairros sociais “ocupam” a Casa Nobre da Lourinhã e fazem-se ouvir

“Não há direito!” foi o mote para as oficinas artísticas com jovens que resultaram numa exposição e numa leitura encenada numa loja devoluta. Uma acção integrada no projecto Próxima Paragem.

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Uma loja no centro da Lourinhã serviu para os jovens dos bairros sociais se manifestarem DR
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Cartazes na montra da loja devoluta DR
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Todas as janelas e portas foram preenchidas com direitos e anseios DR
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André Neves (Maze, da banda de hip hop Dealema) foi um dos dinamizadores das oficinas com os jovens,André Neves (Maze, da banda de hip hop Dealema) foi um dos dinamizadores das oficinas com os jovens Rafael Malvar/Câmara Municipal da Lourinhã
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O espaço também acolheu o lançamento do nº 7 da revista A Morte do Artista, dedicada a Sérgio Godinho, também presente no Livros a Oeste Rafael Malvar/Câmara Municipal da Lourinhã
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A Casa Nobre “dos Direitos” estava cheia e feliz, com muitas famílias e várias gerações. Dos bairros e também não Rafael Malvar/Câmara Municipal da Lourinhã
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Uma das muitas caixas que os alunos encheram com os seus desejos Rafael Malvar/Câmara Municipal da Lourinhã
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Da esquerda para a direita, José Tomé, vereador da Cultura do município da Lourinhã, Noiserv, músico e autor da instalação multidisciplinar, João Morales e Mafalda Teixeira, programadores do Livros a Oeste — Festival do Leitor RAFAEL MALVAR/Câmara Municipal da Lourinhã
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Durante o Livros a Oeste — Festival do Leitor, jovens de dois bairros sociais “ocuparam” a Casa Nobre, no centro da Lourinhã. Ali expuseram cartazes com as suas reivindicações, encheram caixas com direitos, ideias e protestos. Podia ler-se nas paredes e nas janelas da loja “direito à vida”, “direito ao sonho”, “direito à alimentação”, “direito a rir”, “direito à liberdade” e muitos outros. Havia caixas com “direitos apaixonados”, “direitos infinitos”, mas também “direitos perdidos”.

A exposição Não Há Direito! pretendeu dar voz às reivindicações e anseios de jovens que participaram em oficinas artísticas integradas no projecto de democracia participativa Próxima Paragem.

A casa, que acolheu algumas das actividades e conversas do festival, serviu de palco, no último dia do encontro, aos jovens que participaram no projecto, a que se juntou a Escola da Lama.

Numa leitura encenada com o título Era Fixe, pôde escutar-se “era fixe ter um cavalo”, “era fixe dizer tudo o que pensamos e ser livres”, “era fixe poder amar alguém”, “era fixe que ela ficasse bem”, “era fixe poder voar”, “era fixe poder abraçar uma pessoa”, “era fixe poder dizer tudo o que sinto”, “era fixe ver a minha família toda junta outra vez”, “era fixe comer tudo o que quisesse”, “era fixe que não houvesse guerras”, “era fixe que as pessoas fossem honestas”, “era fixe que estes ‘era fixe’ se tornassem a maior verdade”.

Mafalda Teixeira, chefe de divisão de Cultura e Cidadania da Câmara da Lourinhã e que partilha a programação do festival com João Morales, explica ao PÚBLICO que o projecto de cidadania conta com vários parceiros: “É um colectivo, o município, que eu represento, os Sombronautas, a Escola da Lama e o André Neves (Maze, da banda de hip hop Dealema.” Este último já tinha participado na edição anterior do Livros a Oeste, também com actividades com os jovens.

Para José Tomé, vereador da Cultura do município, esta performance final, que não estava no programa, seria “uma surpresa” e um dos pontos de “maior relevo” do festival. Na antevéspera do encerramento, disse ao PÚBLICO porquê: “Os jovens sentem-se importantes e envolvidos. Isto vai marcá-los porque é mesmo uma coisa deles. O facto de aparecer como surpresa dá-lhes algum relevo. Ficam orgulhosos por entrar no final da programação de um festival relevante como este, já com 12 anos.”

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“Era fixe poder dizer tudo o que sinto”, “era fixe ver a minha família toda junta outra vez”, “era fixe que não houvesse guerras”, “era fixe que as pessoas fossem honestas”, “era fixe que estes ‘era fixe’ se tornassem a maior verdade”, disseram os jovens na Casa Nobre RAFAEL MALVAR/Câmara Municipal da Lourinhã

A Casa Nobre “dos Direitos” estava cheia e feliz, com muitas famílias e várias gerações. Dos bairros e também não.

Para lá do festival

Nesta quarta-feira, já depois do encerramento do festival (que decorreu de 14 a 18 de Maio), a loja devoluta foi o cenário escolhido para a apresentação do livro No Meu Bairro, com texto de Lúcia Vicente e ilustração de Tiago M. (edição da Nuvem de Letras), sobre inclusão e diversidade.

Também nesta quinta-feira, ainda como extensão do Livros a Oeste, vários alunos das escolas do concelho visitaram a instalação Três Luzes Acenderam ao Mesmo Tempo em Três Janelas Diferentes, com a presença do autor, Noiserv, “para conversarem com ele sobre a sensação e o processo”, informa Mafalda Teixeira.

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A exposição Três Luzes Acenderam ao Mesmo Tempo em Três Janelas Diferentes, de Noiserv, parte do livro do mesmo autor Três-vezes-dez-elevado-a-oito-metros-por-segundo RAFAEL MALVAR/Câmara Municipal da Lourinhã

Uma instalação multidisciplinar que pode ser vista na Galeria Municipal da Lourinhã até dia 25 de Maio (10h30-16h30) e que parte do livro do mesmo autor Três-vezes-dez-elevado-a-oito-metros-por-segundo.

Escreve-se na sinopse: “Uma simbiose perfeita entre som, luz e voz, onde se junta a polifonia da banda sonora — escrita em exclusivo pelo músico Noiserv ­— um jogo de luz do iluminador Alberto Pinheiro e a lindíssima voz da actriz Isabel Abreu.” Tudo verdade.

Era este tipo de abordagem de cruzamento multidisciplinar que precisávamos para fazer jus ao Festival do Leitor”, diz a programadora.

Quem já assistiu aos 15 minutos e 37 segundos que dura a sessão viveu uma experiência envolvente, que é também um bom exercício de escuta e observação, que convida à reflexão sobre a dinâmica e relação entre nós e os outros. Tem momentos comoventes e, no final, apetece levar as janelas para casa.

O PÚBLICO esteve na Lourinhã a convite do festival

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