Porto pavimenta Ramal da Alfândega, mas só entre Campanhã e Fontainhas
Para já, antigo canal ferroviário ao longo da encosta do Douro servirá peões e bicicletas. No futuro, deve servir para veículos de transporte público sobre rodas ou carris.
Ainda este ano, a Câmara Municipal do Porto (CMP) deve lançar o concurso para a pavimentação do Ramal da Alfândega, o antigo canal ferroviário entre a estação de Campanhã e Miragaia. Mas nem todo o percurso será abrangido pela empreitada.
O custo da intervenção ainda não foi calculado, mas o vereador do Urbanismo da CMP, Pedro Baganha, avançou ao Porto Canal que a construção proposta "não é demasiado complexa”.
Baganha diz que esta é uma solução “em dois tempos”: pavimenta-se para que possa ser percorrido por peões e bicicleta numa primeira fase; depois, “a médio prazo”, o objectivo é instalar ali um sistema de transporte público, em modo rodoviário ou sobre carris.
Em resposta a um pedido de esclarecimento do PÚBLICO, a CMP detalha que esta intervenção deixa de fora o túnel com 1,3 quilómetros de extensão que liga as Fontainhas à Alfândega.
Sem o túnel a permitir o percurso até à zona ribeirinha, esta pista do Ramal da Alfândega terá acesso pelas Fontainhas e pela Avenida Gustavo Eiffel e, já na zona de Campanhã, pela Rua do Freixo.
A empreitada também não prevê a construção dos meios de ligação da cota alta à cota baixa (na escarpa a Sul da Rua Duque de Loulé, na Calçada das Carquejeiras, na Calçada do Rego Lameiro e junto à ponte D. Maria), que foram apontados no processo de discussão da reactivação do ramal.
A autarquia espera que concurso para a empreitada possa ser lançado no quarto trimestre de 2024. Os trabalhos terão um prazo de execução de meio ano e incluem instalação de iluminação ao longo do ramal (com excepção do túnel da Alfândega), assim como de “outras infra-estruturas necessárias para o seu bom desempenho”, responde a CMP.
Sobre o futuro do modo do transporte, ainda não há novidades. Em Outubro de 2023, a STCP serviços tinha apresentado uma análise que excluía a utilização pedonal e ciclável do ramal e apontava para uma ligação exclusivamente feita por transporte público. “Existe procura potencial [2800 passageiros por dia] para uma ligação de transporte público criando uma ligação competitiva entre Campanhã e o centro histórico à cota baixa”, concluía o estudo.
Ficava em aberto se tal aconteceria através de um sistema de autocarros eléctricos ou ferrovia ligeira. A dúvida mantém-se, Agora, questionada sobre se a pavimentação do canal significa que o transporte a instalar ali tem de ser rodoviário, a CMP responde que o “tipo de veículo” a utilizar só será definido no futuro.
O ramal, uma antiga linha de mercadorias desactivada desde 1989, tem 3,7 quilómetros de extensão, sendo que 1,3 quilómetros correspondem ao túnel entre Fontainhas e Alfândega, que não deverá reabrir tão cedo.
Durante o processo de discussão de reactivação do antigo canal ferroviário, a autarquia lembrava que ligar a Alfândega a Campanhã através de transporte público em apenas cinco minutos permitiria retirar carros do centro da cidade e eliminar o parque de estacionamento do edifício que hoje funciona como centro de congressos.
No lugar do estacionamento, à beira do Rio Douro, o alcatrão deveria dar lugar a um espaço ajardinado. Também esta transformação fica à espera de uma solução definitiva. Ao Porto Canal, Pedro Baganha não apontou datas, mas mencionou que a STCP Serviços está a preparar as peças para lançar o concurso de transporte público para o ramal.
Em 2020, já o renascido GARRA - Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega contestava a possibilidade de uma ciclovia temporária e defendia a instalação de um transporte ferroviário naquela via. “É a única solução que ajuda mesmo a transformar a cidade. Uma ciclovia ali não transforma nada”, dizia o membro do grupo Pedro Pardinhas.