Os retalhistas de luxo das cidades europeias fora de França estão a disputar os turistas que vão evitar estarem em Paris durante o período dos Jogos Olímpicos de Verão, entre 26 de Julho e 11 de Agosto. "Paris estará provavelmente mais lenta", com cidades como Londres, Milão ou Barcelona a registarem um aumento do tráfego durante o evento, afirma o CEO da Cartier, Cyril Vigneron.
Por seu lado, o director-geral da Van Cleef & Arpels, Nicolas Bos, é da opinião que o período dos jogos não é provavelmente "a altura certa para organizar uma celebração muito importante da alta joalharia em Paris". Contudo, a marca manterá as suas lojas abertas e terá "todo o prazer em acolher os amantes do desporto", acrescenta.
Os executivos das marcas de joalharia detidas pela Richemont falam por experiência própria. Os Jogos Olímpicos de 2012, realizados em Londres, levaram alguns compradores sérios às suas boutiques em Paris, dizem, embora tenham sido "neutros" em geral para os seus negócios.
A LVMH, o maior grupo de luxo do mundo e patrocinador dos Jogos Olímpicos, baseia também as suas expectativas na experiência adquirida nos eventos anteriores em Londres e Pequim. "Normalmente é bastante neutro, embora torne a nossa vida um pouco mais complicada quando se trata de fornecer produtos às nossas lojas", afirma Jean Jacques Guiony, director financeiro da LVMH.
Um relatório encomendado por Paris 2024, na semana passada, assinalou um possível efeito de "crowding out", em que os turistas que tinham planeado ir a Paris vão para outro lado, mas o responsável diz que é difícil de medir e prever.
A Federação da Alta Costura e da Moda (Federation de la HauteCouture et la Mode) antecipou uma semana a realização dos desfiles de alta-costura do Outono de 2024, que passarão a realizar-se a 24 de Junho, logo a seguir aos desfiles de pronto-a-vestir masculino da Primavera de 2025. Os organizadores estão também a duplicar os serviços de transporte entre os desfiles, uma vez que se espera que os preparativos finais para os Jogos Olímpicos engarrafem o trânsito da cidade.
No entanto, nesta temporada, algumas marcas de moda só farão apresentações em Milão, devido a "dificuldades logísticas por causa dos Jogos Olímpicos", justifica Carlo Capasa, presidente da Câmara Nacional da Moda de Itália.
Os retalhistas londrinos, que sofreram uma queda no tráfego turístico com o fim das compras isentas de impostos no Reino Unido, esperam captar o negócio de Paris, com os preparativos em curso nas lojas Harrods e Selfridges.
"Paris já foi retirada das listas de visitas chinesas para este Verão", informa o director-geral do Harrods, Michael Ward, que espera um aumento significativo de vendas. "Temos de fazer a curadoria do produto, temos de estar absolutamente preparados para o fazer", declara.
Os grandes armazéns esperam atrair os compradores com a celebração da sua nova boutique de alta joalharia Tiffany & Co., pop-ups de designers e produtos exclusivos, incluindo dois novos ursos de peluche do 175.º aniversário, concebidos pela marca italiana de joalharia Bulgari e pela marca de maquilhagem Charlotte Tilbury.
A Selfridges pretende atrair os habitantes locais e os visitantes internacionais com eventos desportivos, como um clube de corrida, e está a reforçar a sua oferta de produtos de vestuário desportivo. "Estamos a preparar-nos para uma enorme celebração do desporto", afirma o director executivo Andrew Keith.
Barcelona, por seu lado, apresenta-se como uma alternativa descontraída ao ambiente frenético dos Jogos Olímpicos de Paris. "A Espanha pode oferecer uma experiência de lazer e consumo mais descontraída do que aquela que, durante semanas, a cidade e o país anfitrião dos Jogos terão", disse à Reuters a associação espanhola de retalho e indústria alimentar AECOC.
Alguns turistas, nomeadamente norte-americanos, que pretendem ir aos Jogos, em Paris, que se desenrolarão maioritariamente em recintos espalhados pela capital francesa, tencionam prolongar a sua viagem para visitar outros países europeus. "Os dados de viagens dos EUA parecem implicar um efeito de halo, uma vez que, para além de um aumento das reservas em França para os Jogos Olímpicos, os nossos dados reflectem uma amplificação das viagens intra-europeias dos americanos na Europa para determinados destinos, como Espanha, Alemanha e Itália", informa a agência de viagens eDreams à Reuters.