Accionistas da Shell aprovam metas de redução de emissões menos ambiciosas

Petrolífera tem menos ambição na redução das emissões, mas reforçou a remuneração dos accionistas com um programa de recompra de acções de 3,2 mil milhões de euros.

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Manifestantes protestam contra "a ganância" da Shell junto ao local da assembleia-geral de 2024, em Londres Ron Bousso / REUTERS
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A grande maioria dos accionistas da Shell deu à administração da petrolífera o respaldo necessário para seguir uma estratégia menos ambiciosa em termos de redução de emissões de CO2. O novo plano de transição energética da empresa, apresentado em Março, foi aprovado por 78% dos accionistas na assembleia geral (AG) desta terça-feira.

Os accionistas da Shell (que está no top 5 das maiores empresas de petróleo e gás do mundo) também rejeitaram uma resolução apresentada pelo grupo de activistas Follow This e por 26 outros investidores da Shell, que instava a empresa liderada por Wael Sawan a intensificar o esforço de redução de emissões.

Quando a petrolífera (com sede no Reino Unido e parceira da portuguesa Galp em projectos no Brasil) estabeleceu o seu plano inicial de transição energética, ainda sob a liderança de Ben van Beurden, em Fevereiro de 2021, comprometeu-se a reduzir a intensidade carbónica dos seus produtos energéticos em 20%, face aos níveis de 2016, até 2030.

O passo seguinte seria uma redução de 45% até 2035, com o objectivo de se atingir a neutralidade carbónica em 2050. Estes planos, quando submetidos à apreciação dos accionistas, foram aprovados por 89% dos votos.

Este ano, apesar dos protestos de muitos ambientalistas junto ao local da AG, em Londres, e de cerca de um quinto do capital ter votado contra o abrandamento do plano de transição energética, a rentabilidade dos projectos de energias fósseis e a expectativa de reforço da remuneração levaram a melhor sobre as preocupações com as alterações climáticas.

Com a nova estratégia apresentada em Março, a meta passa a ser uma redução de emissões de 15% a 20% até 2030 e desapareceu o objectivo intermédio de 45% em 2035, mantendo-se apenas a intenção de chegar à neutralidade carbónica em 2050.

No primeiro trimestre deste ano, a Shell apresentou lucros de 7,7 mil milhões de dólares (perto de sete mil milhões de euros), superando as expectativas dos analistas, que eram de 6,5 mil milhões. Com a normalização dos mercados depois da crise energética de 2022, os resultados trimestrais, apresentados no início deste mês, ficaram 20% abaixo do registado no trimestre homólogo.

Mas nada que impedisse a empresa de anunciar um reforço da remuneração accionista: um programa de recompra de acções, no valor de 3,5 mil milhões de dólares (cerca de 3,2 mil milhões de euros), que deverá completar-se nos próximos meses.

Citado pela CNBC, Wael Sawan descreveu os resultados como “mais um trimestre de forte desempenho operacional e financeiro”, com as elevadas margens de refinação (a rentabilidade por barril) e a comercialização de petróleo a impulsionarem os ganhos.

O Financial Times (FT) destaca que, este ano, a empresa reforçou as medidas de segurança para impedir tumultos como os de assembleias gerais anteriores. No ano passado, por exemplo, cerca de 100 activistas climáticos interromperam o discurso de abertura do CEO, Wael Sawan, exigindo o fim da extracção de petróleo e gás e entoando protestos como “Go to hell, Shell” (Vai para o Inferno, Shell).

Mas nem mesmo assim se evitou que, no discurso de abertura, o presidente do conselho de administração da petrolífera, Andrew MacKenzie, fosse interrompido por activistas e acusado de green washing ("lavagem verde", em tradução livre, para significar a prática de ocultar ou maquilhar os verdadeiros efeitos ambientais de alguma prática ou empresa), noticia o The Standard.

Os manifestantes foram rapidamente retirados da sala da assembleia geral, refere ainda o FT, acrescentando que, durante as cerca de três horas em que durou o encontro, poucas foram as questões colocadas sobre as metas climáticas.

MacKenzie garantiu que a empresa continua empenhada em atingir a neutralidade carbónica, mas defendeu que é preciso mais investimento em combustíveis fósseis, nomeadamente em gás natural liquefeito (GNL), pois esta energia será necessária na fase de transição.

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