Lenna Bahule estreia o novo álbum Kumlango no festival Tanto Mar de Loulé

Cantora e activista cultural, a moçambicana Lenna Bahule está em destaque na 5.ª edição do Tanto Mar, de Loulé, com um workshop e o espectáculo Kumlango.

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Lenna Bahule Dilayla Romeo
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Cantora, arte-educadora e activista cultural, como é designada, a moçambicana Lenna Bahule é a figura em destaque na 5.ª edição do Tanto Mar, Festival Internacional de Artes Performativas de Loulé, que abre esta terça-feira as suas portas nesta cidade algarvia. Ao programa deste ano, Lenna Bahule traz um workshop aberto à comunidade, BatuCorpo, e um espectáculo que ostenta o título do seu próximo álbum, Kumlango, que significa “portal” em ajaua (ou yao), língua de um dos principais grupos étnicos e linguísticos da província moçambicana de Niassa, que é também a língua materna da mãe da cantora.

O workshop, inicialmente anunciado para dia 22, decorrerá na sexta-feira, dia 24, na Cerca do Convento do Espírito Santo, às 11h. Inspirado num movimento homólogo que existe desde 2013 em São Paulo, no Brasil, chamado Fritura Livre, o BatuCorpo que Lenna Bahule iniciou em Maputo em 2023 é, mais do que um simples workshop, “uma vivência aberta, para fazer música com o corpo e alma presente”. Nele, Lenna Bahule, usando “técnicas e jogos da prática da música corporal”, conduz os participantes “numa dinâmica livre, intuitiva, espontânea, porém coordenada de improvisação e expressão musical”, num “movimento de acessibilidade e democratização do fazer artístico”.

No dia seguinte, 25, às 21h, será dela o palco do Cineteatro Louletano para o concerto de encerramento do festival. Kumlango, o espectáculo, conta com Lenna Bahule (voz, ngoni, percussão e chitende) e Muhamago (electrónica, voz e design de som), explorando, como diz o programa, as diferentes camadas de frequências, sons, cadências e ritmos fazendo uma mistura intimamente entrelaçada entre o orgânico (sons que saem do nosso corpo ou provocados por ele) e as texturas electrónicas (criados através de tecnologia pensada e manuseada de uma forma orgânica)”. Kumlango é também o título do novo álbum de Lenna Bahule, que se estreou em 2016 com Nômade. Um álbum composto por “uma trilogia sonora intercultural” que ela editará em três EP ao longo deste ano. O primeiro é lançado no dia 31 de Maio e chama-se Kwisa (vir); o segundo sairá em 26 de Agosto e intitula-se Nadawi (tempo); e o terceiro, Mate (significado), sairá em 24 de Novembro.

No seu todo, Kumlango, segundo os textos da cantora, inspira-se na “experiência humana universal dos ciclos da vida que nos convidam a transitar do mundano e material ao místico, consoante a nossa vocação”, pretendendo ser “uma ode à busca de respostas, ao trabalho árduo e às sincronicidades necessárias para processar e, eventualmente, ao momento de travessia do portal para um estado de êxtase, euforia e plenitude”. Propondo ainda uma musicalidade “que remete a um encontro atemporal de culturas entre povos colonizados tradicionais e indígenas afro-ameríndios, numa mistura quase Sul-Sul.”

Tanto Mar, o programa

A programação do Tanto Mar, Festival Internacional de Artes Performativas de Loulé, que nesta sua 5.ª edição celebra os 50 anos do 25 de Abril, inclui propostas artísticas com origem em Moçambique, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal. A abertura do festival tem lugar esta terça-feira, 21 de Maio, às 18h, no Páteo dos Banhos Islâmicos, com a apresentação pública dos grupos participantes, seguida de um debate aberto ao público (Tantas Conversas, com moderação de Miguel de Barros, da Guiné-Bissau) e da apresentação de 5 Anos de Marés, um livro que celebra as cinco edições deste festival que é organizado pela associação Folha de Medronho, com direcção artística de João Mello Alvim e apoio da Câmara Municipal de Loulé e do Cineteatro Louletano.

Quarta-feira, dia 22, às 15h, será projectado na Associação Alfaia o documentário EntreMares’24, de Tomás Barão da Cunha e Miguel Canaverde, feito a partir de uma residência artística com o mesmo nome que decorreu durante o mês e Abril, em Loulé. Segundo o programa, este documentário terá ainda outras exibições no mesmo espaço, nos dias seguintes: 23, 24 (das 14h30 às 18h) e 25 de Maio (das 10h30 às 18h).

A partir daqui, o programa segue no Teatro Louletano. No dia 22, às 21h, a companhia de teatro Lêndias d’Encantar, de Beja, apresenta No Limite da Dor, quatro histórias que retratam o Portugal dos tempos da PIDE. Dia 23, à mesma hora, será a vez de Ilha dos Sem Terra, pela RaízArte, de São Tomé e Príncipe, espectáculo “inspirado no relato de pessoas que nasceram num país, adquiriram a cultura de outro, e encontram-se, invariavelmente, num constante processo de afirmação da sua identidade e origem”.

Na sexta-feira, dia 24, após o já citado workshop dirigido por Lenna Bahule, na Cerca do Convento do Espírito Santo, às 11h e aberto à comunidade, o grupo de Teatro Por Que Não?, vindo da Cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Brasil, apresenta no Cineteatro Louletano, às 21h, o espectáculo Não Há Mar, “ensaio nascido em plena pandemia, que se cumpre na partilha de cumplicidades entre actores e público”. Por fim, o festival encerra dia 25, às 21h, com o espectáculo Kumlango, de Lenna Bahule.

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