Velocidade (pouco) Furiosa no regresso da saga Mad Max

Há inteligência, honestidade, talento e Anya Taylor-Joy nesta “prequela” de Mad Max: Estrada da Fúria. Mas não há surpresas, apenas um “apêndice” da saga contado em velocidade de cruzeiro.

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O filme Furiosa: Uma Saga Mad Max estreia-se esta quinta-feira nos cinemas portugueses
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Nas entrevistas que George Miller tem dado a propósito desta sua quinta incursão no universo pós-apocalíptico que criou em 1979, tem-se falado muito do amor do australiano pelo cinema mudo, pela sua convicção de que toda a gramática do cinema foi inventada antes da chegada do som. Pelo meio de todo o “som e fúria” que transborda de Furiosa, é exactamente isso que Miller parece querer provar aqui: que não há sequência de acção mirabolante nem cenários naturais de cortar a respiração que possam equivaler ao rosto humano. E não podia ter escolhido melhor actriz do que Anya Taylor-Joy, ela de O Menu e The Queen’s Gambit e Peaky Blinders, para interpretar esta prequela de Mad Max: Estrada da Fúria que “preenche” a pré-história de Furiosa, aí interpretada por Charlize Theron. A estreia nas salas de cinema portuguesas é esta quinta-feira.

Taylor-Joy não terá mais de uma dúzia de linhas de diálogo nas duas horas e meia de projecção, mas não precisa; está tudo nos olhos e no modo como Miller não hesita em focar neles a câmara, ciente de que ela consegue traduzir com um olhar dezenas de palavras e que o espectador é capaz de o perceber. É uma simbiose certeira e inteligente entre actriz e realizador, mas é também uma “declaração de intenções” do australiano que diferencia a sua abordagem “artesanal” à lógica do blockbuster de toda a concorrência digital: tratar o rosto humano como uma paisagem ao nível das dunas do outback australiano. Rosto esse que não é só o de Anya Taylor-Joy, mas é também o de um Chris Hemsworth irreconhecível de (literalmente) demente ou de um Tom Burke a fazer pensar nos velhos canastrões do western hollywoodiano.

Porque, sim, continuamos no território do western e da série B com uma transfusão de sangue exploitation. Mas sentimos também que já não existem segredos para o realizador neste universo.

Furiosa parece um “agradecimento” sincero ao público e à crítica que fizeram de Estrada da Fúria um dos raríssimos filmes unânimes dos últimos anos, uma maneira de satisfazer a vontade manifestada por muitos de regressar a este universo e de lhe dar um pouco mais de consistência. Não é, contudo, possível recriar essas circunstâncias, o contexto e os tempos não são os mesmos.

Não que haja cinismo nem aproveitamento em Furiosa, filme honesto, mas com um ar de “apêndice” aos filmes anteriores; não há, o filme é aquilo que é e não tem pretensões a ser mais do que isso. Mas também não há surpresas para deliciar o espectador; da “velocidade furiosa” de Estrada da Fúria passamos a uma simples “velocidade de cruzeiro”. O que não é mau, mas é mais do mesmo.

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