Santa Casa despede-se de Ana Jorge com palmas e algumas lágrimas
Novo provedor diz que tem consciência dos “graves desafios” da Santa Casa. Ministra sublinha que, com Paulo de Sousa, a instituição inicia um novo ciclo de “gestão transparente e criteriosa”.
A sala das extracções da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) foi demasiado pequena para todos os que quiseram assistir à tomada de posse do novo provedor Paulo Duarte de Sousa, mas o corredor, à saída da mesma sala, ainda foi mais pequeno para todos os funcionários que se quiseram despedir da provedora cessante, Ana Jorge. As palmas ecoaram pelo corredor fora e houve mesmo quem não conseguisse conter as lágrimas.
Mesmo exonerada por “incapacidade de gestão” e depois de várias trocas de acusações em entrevistas e na comissão parlamentar com a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, Ana Jorge assistiu, sentada na primeira fila, ao discurso do seu sucessor.
Foi também na primeira fila que ouviu a ministra dizer, na frente de todos, incluindo do primeiro-ministro, Luís Montenegro - que também entrou mudo e saiu calado, apenas distribuiu cumprimentos e sorrisos, e não quis falar aos jornalistas - que com Paulo de Sousa, a instituição "inicia um novo ciclo na sua liderança, que compreende a importância da gestão transparente e criteriosa para proteger a missão” da SCML.
Depois de dizer quase de enfiada todo o currículo do provedor para justificar a escolha, Maria do Rosário Palma Ramalho sublinhou que Paulo de Sousa tem “o melhor perfil para enfrentar os sérios desafios que a Santa Casa tem pela frente”, nomeadamente o de “continuar a assegurar condições de sustentabilidade indispensáveis”, com uma “gestão responsável e rigorosa dos recursos financeiros e humanos”, para “garantir que a SCML continua a dar resposta social, sobretudo aos mais desprotegidos”.
As palavras “sustentabilidade” e “gestão responsável” causaram alguma tensão na sala. Muitos endireitaram-se nas cadeiras. No fundo da sala, ouviu-se aqui e acolá muito baixinho: “palavras bonitas para não dizer cortes”, “isto soa a despedimentos”.
Já no fim do seu discurso, que nem cinco minutos durou, a ministra sublinhou que, “em breve será anunciada a composição da restante mesa da Santa Casa e a data da sua tomada de posse para que os novos trabalhos possam ter início o mais depressa possível”.
O novo provedor, por sua vez, disse conhecer os “graves desafios que a instituição enfrenta” e prometeu “defrontá-los honrando sempre o seu legado histórico e propósito inicial”. Paulo de Sousa afirmou que aceitou o convite do Governo “com orgulho e responsabilidade”.
“A SCML é uma instituição de inestimável utilidade pública, porque a sua missão é trazer bem-estar às pessoas, a começar pelos mais desprotegidos”, salientou, acrescentando que vai assumir o cargo com “dedicação” não só aos trabalhadores e às equipas, mas também “às múltiplas actividades da instituição, no espírito da tradição cristã, obras de misericórdia do compromisso originário, bem como secular actuação em prol de toda a comunidade”.
No final de todos os discursos e cumprimentos, Ana Jorge não deixou a ministra sem resposta. A provedora cessante disse que concordava que a SCML inicia um novo ciclo, mas discordou quanto à questão da gestão mais transparente, sublinhando que a ministra "não teve tempo" para comprovar faltas de transparência.
Ao que o PÚBLICO apurou, os restantes membros da mesa foram informados que terão de manter-se em funções até à tomada de posse dos novos membros que, em princípio, deverá ser na próxima quarta-feira.