Um em cada quatro utentes de Lisboa e Vale do Tejo sem médico de família
Segundo o portal da transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no final de Abril 1.565.880 utentes não tinham médico de família em Portugal continental, mais 26.658 do que no mês anterior.
Um em cada quatro utentes inscritos nos cuidados de saúde primários não tinha médico de família em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) em 2023, enquanto no Norte apenas 2,3% dos utentes estavam nessa situação.
"Continua a observar-se uma tendência de diminuição na percentagem de utentes com médico de família atribuído, e grandes heterogeneidades a nível regional, com impacto nos indicadores de acesso aos cuidados de saúde prestados nas unidades de cuidados de saúde primários (CSP)", alerta a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) numa monitorização divulgada esta segunda-feira.
Segundo os dados do portal da transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) consultados pela agência Lusa, no final de Abril deste ano 1.565.880 utentes não tinham médico de família em Portugal continental, mais 26.658 do que no mês anterior.
A monitorização da ERS sobre acesso aos CSP indica que, no último ano, 24,6% dos utentes inscritos em LVT não tinham um médico de família atribuído, percentagem que aumentou face aos 18,2% de 2021 e 19,2% de 2022.
O Algarve é a segunda região de Portugal continental com mais pessoas sem acesso a um especialista de medicina geral e familiar, um cenário que também evoluiu negativamente nos últimos três anos — 15,1% em 2021, 17,6% em 2022 e 20% em 2023.
De acordo com os dados da ERS, no Alentejo verificou-se o maior aumento percentual de pessoas sem médico de família — oito pontos percentuais —, passando de 9,4% em 2021 para 17,3% em 2023.
No Centro, o número de pessoas inscritas, mas sem terem médico de família atribuído, passou de 6% para 12,6% entre 2021 e 2023.
A região Norte destaca-se pela positiva nesse indicador, uma vez que apenas 2,3% dos utentes inscritos nos centros de saúde não tinham médico de família no último ano, um ligeiro crescimento face a 1,9% em 2021 e 2,2% em 2022.
No final de 2023, 83,5% dos utentes inscritos nos CSP tinham médico de família atribuído em Portugal continental, continuando a verificar-se uma tendência de redução, que foi de 2,1 pontos face a 2022 e de 5,3 pontos em relação a 2021.
O Norte apresentou a maior percentagem de utentes inscritos com médico de família atribuído (97,6% em 2023), enquanto em LVT esse valor baixa para cerca de 70%.
Segundo os dados da entidade reguladora, a taxa de utilização de consultas médicas apresentou, em 2023, um valor de 69%, com todas as regiões a seguirem uma tendência de redução.
"Do confronto das percentagens de utentes com médicos de família com as taxas de utilização de consultas, destaca-se que as regiões de LVT e do Algarve exibiram as taxas mais baixas em todos os anos em análise nestes indicadores, o que sugere que a disponibilidade de médico de família representa um importante factor promotor do acesso aos CSP no SNS", alerta a ERS.
Em 2023, as consultas médicas presenciais aumentaram 3,7%, seguindo a mesma tendência de 2022, mas ainda em número inferior às registadas em 2019 (20.715.482).
Já as consultas médicas não-presenciais registaram uma diminuição de 6,3% em 2023, face a 2022, também seguindo a tendência de 2022.
A comparação destes dados "parece sugerir uma alteração na forma da prestação de cuidados de saúde, com o reforço das consultas médicas presenciais em detrimento das consultas não-presenciais, e, por outro lado, privilegiando as consultas de enfermagem não-presenciais face às presenciais", indica a entidade reguladora.
Relativamente aos rastreios de doenças oncológicas, com excepção das mamografias, que registaram uma diminuição em 2023, os restantes rastreios de base populacional analisados (colpocitologias e cancro do colon e recto) aumentaram, tendo todos registado valores superiores aos de 2019.
Segundo a ERS, tendo em conta que o Norte apresenta melhores indicadores e que é a região com maior percentagem de Unidades de Saúde Familiares de modelo B, o seu "melhor desempenho poderá estar associado ao modelo organizacional destas unidades".
Já no que se refere à retoma da actividade assistencial, a ERS constatou "não ter sido possível recuperar os níveis de 2019", ano anterior à pandemia de covid-19, nos indicadores de consultas presenciais (médicas e de enfermagem), consultas médicas ao domicílio, percentagem de recém-nascidos com domicílio de enfermagem até aos 15 dias de vida e consultas por motivo de gripe.