Ossufo Momade reconduzido como presidente da Renamo

O presidente da Renamo foi reeleito num congresso que ficou marcado por agressões e expulsão de jornalistas à entrada.

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O congresso decorreu esta quinta-feira em Alto Molócue, na província moçambicana do Zambeze YESHIEL PANCHIA
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O reeleito presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Ossufo Momade, garantiu esta sexta-feira que conta com os restantes candidatos que disputaram a liderança do maior partido da oposição no congresso e que “ninguém pode ficar de fora”.

“Em primeiro lugar quero agradecer pela vossa confiança, que depositaram em Ossufo Momade. Eu agradeço e prometo trabalhar com todos. Todos os candidatos. Para que possam alinhar connosco, ninguém pode ficar de fora”, afirmou Ossufo Momade, ao discursar no congresso, já ao início da manhã desta sexta-feira, após a proclamação dos resultados oficiais, em que venceu a eleição interna com 57% dos votos, entre nove candidatos.

“Todos nós temos que trabalhar juntos (…) A partir de hoje, eu vou trabalhar com todos, não vou discriminar a ninguém. Aqui não existem adversários, não existem inimigos, mas sim a democracia interna”, acrescentou.

O conselho jurisdicional da Renamo confirmou esta sexta-feira a eleição de Ossufo Momade como presidente do partido, que lidera desde 2019, obtendo 57% dos votos no congresso que decorreu desde quarta-feira em Alto Molócue, província da Zambézia, garantindo assim novo mandato de cinco anos.

“Eu não ganhei, eu não venci. A vitória é da Renamo, a vitória é de todos nós”, disse ainda.

Após a eleição do presidente, a Renamo terá de clarificar qual o candidato que vai apoiar ao cargo de Presidente da República nas eleições gerais de 9 de Outubro, que, por norma, é o líder do partido.

“Primeiro vamos ter a primeira sessão do conselho nacional e a partir daí vamos saber quem será o candidato”, disse Ossufo Momade, em resposta aos jornalistas à saída do congresso.

Os dados divulgados ao início da manhã, validados pelo conselho jurisdicional, confirmaram os dados preliminares conhecidos cerca das 4h00 locais (3h00 em Lisboa), com Ossufo Momade a vencer a eleição com 382 votos, entre nove candidatos.

Estavam inscritos para votar no sétimo congresso da Renamo 710 elementos do partido e registaram-se 674 votos expressos em urna, incluindo 26 abstenções, quatro nulos e seis em branco.

A Renamo é liderada desde 17 de Janeiro de 2019 por Ossufo Momade, 63 anos, eleito após a morte do líder histórico do partido, Afonso Dhlakama (1953-2018).

Elias Dhlakama, irmão do líder histórico do partido, recolheu 147 votos e Ivone Soares, deputada e antiga chefe de bancada parlamentar, a primeira mulher a concorrer à liderança da Renamo, obteve 78 votos, segundo os dados do conselho jurisdicional.

“Pela primeira vez a voz de uma mulher fez-se sentir como candidata neste partido, que é a Resistência Nacional Moçambicana. Sinto-me orgulhosa por ter tido o apoio dos militantes (…) O terceiro lugar, para quem está a começar, não é mau, foi uma experiência muito boa”, disse Ivone Soares, aos jornalistas, após o encerramento do congresso.

O congresso ficou marcado pela exclusão da candidatura à liderança de Venâncio Mondlane, deputado e candidato do partido nas eleições autárquicas de Outubro de 2023 ao município de Maputo, por não cumprir os requisitos do perfil definido pelos órgãos do partido.

Mondlane ainda recorreu aos tribunais para forçar a inclusão da sua candidatura, mas, apesar de uma providência cautelar que foi aceite pelo tribunal, o congresso não alterou a lista de candidatos submetidos à votação nem permitiu a sua entrada na reunião magna.

Moçambique realiza em 9 de Outubro eleições gerais, que incluem, além de legislativas e provinciais, presidenciais, às quais já não pode concorrer o actual Presidente, Filipe Nyusi, por ter atingido o limite constitucional de dois mandatos.

Expulsão de jornalistas e agressões à entrada

Na quinta-feira, verificou-se também a retirada dos jornalistas da comunicação social local, bem como ocorreram situações de agressão entre apoiantes do partido, informa a Lusa.

Segundo as imagens transmitidas em directo pelos órgãos de comunicação social presentes no evento, os jornalistas foram retirados do perímetro do espaço onde se realizava o congresso, tendo também sofrido ameaças de elementos da organização.

A situação ocorreu enquanto os jornalistas acompanhavam a entrada do presidente da Câmara da cidade de Quelimane e um dos mais populares membros do partido, Manuel de Araújo. A entrada de Araújo no congresso foi dificultada pelo forte cordão policial que se verificava no perímetro do edifício.

“A polícia fez um juramento de respeitar a Constituição da República e eles devem saber respeitar a Constituição da República. Nenhum elemento da polícia tem o direito de encostar num membro de um partido, neste caso um congressista. Eu sou um congressista, eu tenho o direito a estar lá na sala. Ou não fizeram o trabalho de casa ou têm outras tarefas. Tenho muita pena, é uma vergonha”, afirmou o político, citado pela Lusa, depois de passar pelo cordão policial.

Ocorreram ainda alguns tumultos que resultaram em agressões entre membros do partido apoiantes de Manuel de Araújo e outros membros presentes por aparentemente ter havido uma tentativa de bloqueio da entrada dos apoiantes do presidente, segundo as imagens captadas pelos órgãos de informação.