Lições de fragilidade

Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda. Ao longo de 50 dias publicaremos 50 poemas de 50 autores sobre revolução.

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Tudo, no mundo, é frágil:
as nuvens,
as roseiras,
a democracia.
Qualquer vento desfaz o céu,
os animais mordem as pétalas,
a igualdade é distribuída
conforme os pergaminhos de cada um.

Nada, sob o sol, é garantido:
nem os rios,
nem os pássaros,
nem os direitos.
Já o sol forte seca as águas,
já a fome pesa sobre as asas,
já os direitos prescrevem por preguiça,
quotidianas cobardias.

É da natureza das coisas
serem fugazes:
assim o fogo,
a libélula,
e a memória.
Qualquer sopro apaga a chama,
a noite fria prende o voo,
lembrar é difícil, até há quem jure
que dantes os tempos eram melhores.

Mas as rosas têm os seus espinhos,
os rios renascem nas fontes,
os insectos sabem aguardar a manhã.
E nós?
Que faremos nós?


Pedro Eiras (Porto, 1975). Autor de livros de poesia (Inferno, Purgatório, Paraíso), ficção, teatro, ensaio e outros géneros. É professor de literatura portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

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