Mais de 60% dos recifes de coral do mundo podem ter branqueado em 2023

Quase dois terços dos recifes de coral do mundo foram submetidos a um calor suficientemente intenso no último ano para os colocar em risco, garante agência dos Estados Unidos para os oceanos (NOAA).

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Coral branqueado avistado num recife na Costa dos Corais em Japaratinga, no estado de Alagoas, no Brasil Jorge Silva / REUTERS
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Quase dois terços dos recifes de coral do mundo foram submetidos a um stress térmico suficientemente grave para provocar o branqueamento no último ano, afirmou esta quinta-feira a agência norte-americana de monitorização destes organismos marinhos.

A agência dos Estados Unidos para o Oceano e a Atmosfera (NOAA, na sigla inglesa)​ já havia anunciado que os recifes de coral do mundo estavam a atravessar um quarto episódio de branqueamento em massa, uma vez que as alterações climáticas, combinadas com um padrão climático El Niño, levaram as temperaturas do oceano a valores recorde. Agora, a agência informa que cerca de 60,5% da área de recifes do mundo foi afectada e que esse número continua a aumentar.

Estou muito preocupado com o estado dos recifes de coral do mundo, disse Derek Manzello, coordenador do Observatório dos Recifes de Coral da NOAA, num encontro mensal com os jornalistas. Estamos a ter neste momento a temperaturas oceânicas que são de natureza muito extrema.

Impulsionado pelo stress térmico, o branqueamento dos corais ocorre quando os corais expulsam as algas coloridas que vivem nos seus tecidos. Sem estas algas úteis, os corais tornam-se pálidos e ficam vulneráveis à fome e às doenças. Os cientistas documentaram o branqueamento em massa em pelo menos 62 países e territórios. A Índia e o Sri Lanka são os locais onde foram reportados mais recentemente episódios de branqueamento.

No último evento global, que decorreu entre 2014 e 2017, registaram-se 56,1% das áreas de recife sujeitas a stress térmico de nível branqueador. Os fenómenos anteriores, em 1998 e 2010, atingiram 20% e 35% da área de recife, respectivamente.

Embora o episódio actual tenha afectado uma faixa maior, Derek Manzello disse que o evento de 2014-17 ainda é considerado o pior de que há registo, devido à sua gravidade e persistência. Contudo, o fenómeno que está a ocorrer entre 2023 e 2024 poderá em breve ultrapassá-lo, acrescentou.

Corais das Caraíbas em risco

Os corais do Atlântico foram os mais atingidos pelo aumento das temperaturas oceânicas, com 99,7% dos recifes da bacia a serem sujeitos a stress térmico de nível de branqueamento no ano passado, disse a NOAA. O oceano Atlântico tem estado fora de série, disse Manzello.

E uma avaliação publicada em Abril de 2024 concluiu que a mortalidade dos corais em Huatulco, Oaxaca, no Pacífico mexicano, se situava entre 50% e 93% até à data.

É ainda provável que a situação se agrave este Verão, pois o stress térmico volta a acumular-se no Sul das Caraíbas. Nalgumas zonas, o limiar de stress térmico para a ocorrência de branqueamento já foi ultrapassado.

Isto é alarmante, porque nunca tinha acontecido tão cedo no ano, disse Derek Manzello.

Os cientistas prevêem que haja ainda mais branqueamento este Verão nas Caraíbas do Sul, em torno da região da Florida, e ainda na Barreira de Coral Meso-americana, considerado o segundo maior recife do mundo.

O El Niño está a dissipar-se, mas o oceano continua a estar anormalmente quente. Não será necessário um grande aquecimento adicional para fazer com que as temperaturas ultrapassem o limiar de branqueamento, disse Derek Manzello.