Trabalhadores do Vaticano iniciam acção judicial sem precedentes por melhores condições laborais

Os funcionários dos Museus do Vaticano queixam-se de horas extra mal pagas e condições de saúde e segurança insuficientes. O objectivo é “repensar as leis laborais do Vaticano”.

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Os trabalhadores que tinham ficado inactivos durante a pandemia de covid-19 estavam agora a ser convidados a devolver os salários pagos durante esse período GUGLIELMO MANGIAPANE / REUTERS
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Quase meia centena de funcionários dos Museus do Vaticano iniciaram uma disputa sem precedentes sobre o que descrevem como condições injustas e precárias no local de trabalho, o que pode levar a um embaraçoso processo contra a administração do Papa Francisco.

Os 49 trabalhadores, na sua maioria funcionários de museus, enviaram uma petição ao Governatorato do Vaticano, organismo que administra o Estado da Cidade do Vaticano, lamentando as regras que causam "condições de trabalho que prejudicam a dignidade e a saúde de cada trabalhador", disse a advogada Laura Sgrò, que os representa. Queixam-se de horas extra mal pagas e condições de saúde e segurança insuficientes, afirmou Sgrò.

"Os trabalhadores só decidiram avançar com esta disputa depois de verem todas as suas exigências e pedidos ao longo de anos sem resposta", afirmou. Não é permitida a existência de sindicatos na Cidade do Vaticano. Um porta-voz dos Museus do Vaticano não quis comentar.

A notícia foi inicialmente divulgada no domingo pelo jornal diário Corriere della Sera.

Os 49 trabalhadores, de um total de cerca de 700 pessoas empregadas nos Museus do Vaticano, são todos cidadãos italianos e trabalham no Vaticano há muitos anos.

Juntamente com o Louvre de Paris e o British Museum de Londres, os Museus do Vaticano são dos mais visitados do mundo e possuem uma colecção de arte de valor incalculável, que inclui a famosa Capela Sistina de Miguel Ângelo.

A petição representa o primeiro passo formal num processo de reconciliação obrigatório ao abrigo da lei do Vaticano. Se o processo de conciliação falhar, o caso pode ser levado a um Tribunal do Vaticano.

Sgrò acrescentou que, devido à ausência de regimes de layoff na legislação laboral do Vaticano, os trabalhadores que tinham ficado inactivos durante a pandemia de covid-19 devido ao encerramento dos Museus do Vaticano estavam agora a ser convidados a devolver os salários pagos durante esse período.

"Com esta acção queremos ser construtivos, esperamos que seja a ocasião certa para repensar as regras laborais do Vaticano", disse Sgrò.