Vaticano devolve fragmentos do Pártenon e põe pressão sobre o Museu Britânico

“Esperamos que outros imitem esta iniciativa do Papa, pois Sua Santidade demonstrou que é possível e realista”, disse o representante da Igreja Grega na cerimónia que oficializou a transferência.

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Os três mármores que o Vaticano entregará a Atenas no próximo dia 24: EPA/Museu da Acrópole de Atenas

A devolução à Grécia de três fragmentos do Pártenon que estavam na posse do Vaticano desde o final do século XIX, prometida em Dezembro pelo Papa Francisco, foi oficializada esta terça-feira em Roma. Na cerimónia, o Papa classificou esta dádiva ao líder da Igreja Ortodoxa Grega, Jerónimo II, como um “sinal concreto do desejo sincero de continuar no caminho ecuménico”. Mas num momento em que está na ordem do dia a restituição de património espoliado aos seus países de origem e, em particular, a devolução à Grécia dos mármores do Pártenon na posse do Museu Britânico, as implicações políticas do gesto do Vaticano são óbvias, e as declarações dos envolvidos não o esconderam.

“É um gesto de uma importância histórica que terá muitas e positivas consequências”, declarou Papamikroulis Emmanouil, em representação de Jerónimo II, citado pelo diário espanhol ABC. O que afirmou em seguida só pode ser visto como uma mensagem para Londres: “Esperamos que outros imitem esta iniciativa do Papa, pois Sua Santidade demonstrou que é possível e realista.”

Devolver ao templo projectado por Fídias no século V a.C., sob encomenda de Péricles, pedaços “inseparáveis do mesmo” sarará, “ainda que parcialmente”, uma ferida aberta. “Ainda há muito por fazer para restaurar as feridas e os traumas que se abateram sobre este monumento, práticas que pertencem e remontam a um passado distante.”

Da parte da Igreja Católica, ouviu-se, pela voz do cardeal Fernando Vérgez Alzaga, governador da Cidade Estado do Vaticano, que os fragmentos “serão reunificados no seu lugar de origem como gesto ecuménico de redescoberta da amizade entre as [duas] Igrejas”.

A restituição, ou oferenda, como se lhe refere o Vaticano, concretizar-se-á a 24 de Março numa cerimónia em Atenas, momento em que regressarão ao Pártenon os três fragmentos: a cabeça de um cavalo, parte da quadriga de Atenas no frontão Oeste do monumento; a cabeça de uma criança que carrega um bolo votivo; e uma cabeça masculina de barbas.

As peças foram identificadas nos Museus do Vaticano em diferentes momentos no tempo, como conta o ABC. A cabeça de criança, em 1820 – fora levada por tropas venezianas no século XVII, na sequência de um ataque a Atenas ocorrido em 1687; passaria posteriormente para a posse do embaixador britânico na Sicília, cuja viúva o ofereceu ao Papa Pio VII em 1804. No mesmo século, os arqueólogos dos Museus Vaticano identificariam igualmente a cabeça do homem com barba. Já no século XX, em plena Segunda Guerra Mundial, a arqueóloga Hermine Speier identificou a cabeça de cavalo.

As declarações saídas de cerimónia desta terça-feira, que contou ainda com a presença da directora dos Museus do Vaticano, Barbara Jatta, e da ministra da Cultura e do Desporto grega, Styliani-Lina Mendoni, podem constituir um novo impulso na disputa de várias décadas que opõe o Reino Unido e a Grécia quanto à posse dos mármores do Pártenon expostos no Museu Britânico. Levados de Atenas em 1805 por Lord Elgin, embaixador britânico no Império Otomano, que dominava então a Grécia, são consideradas sua legítima propriedade pela instituição britânica e fruto de apropriação ilegal pelo Estado grego.

Até muito recentemente, o Museu Britânico recusou de forma inflexível qualquer discussão sobre a possibilidade e os termos de uma restituição. Em Dezembro, porém, foi noticiado que governantes gregos e o presidente do conselho de administração da instituição mantinham há mais de um ano negociações sobre o futuro dos mármores.

Como o PÚBLICO noticiou na altura, o avanço era descrito ora como “preliminar”, ora como "credível" e "muito entusiasmante”, consoante a parte em causa. O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, mostrou-se confiante numa “solução mutuamente vantajosa”.

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